27 setembro 2009

O Gato-bravo e a Lebre

Gato-bravo (Felis silvestris) com uma Lebre (Lepus granatensis) recém-capturada.

O Gato-bravo (Felis silvestris) é um dos mamíferos mais esquivos e menos estudados da nossa Fauna. O seu estatuto de conservação, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Instituto da Conservação da Natureza), é de Vulnerável, assumindo-se um declínio acentuado da sua população nos últimos anos.
Trata-se de um predador que privilegia na sua dieta o Coelho (Oryctolagus cuniculus), a Lebre (Lepus granatensis), os roedores, como o Rato-do-campo (Apodemus sylvaticus) e as aves, principalmente os passeriformes. Enquanto a observação na Natureza de um gato-bravo é bastante difícil, a visualização de um lance de caça é um evento extremamente raro, mesmo para um indivíduo que dedique grande parte da sua vida ao estudo da Fauna Ibérica. 
A imagem que aqui se expõe assume por isso um significado especial. Nela se observa um gato-bravo fotografado às 6 horas da manhã do passado dia 6 de Setembro no Nordeste Transmontano, transportando pela boca uma lebre recém-capturada. Permite constatar a elegância felina deste animal tão secreto, comprovar a sua capacidade de caça, atestar a sua força no transporte de uma presa que pode atingir um peso semelhante ao seu.
Acima de tudo esta fotografia é o testemunho maior de um Portugal selvagem que há muito aprendi a admirar... 

05 setembro 2009

O desaparecimento estival do Rio Maças


Estas imagens mostram algo pouco comum: o desaparecimento completo de um rio devido à escassez de precipitação ao longo do último ano hidrológico. 

As pessoas mais idosas das aldeias circundantes não se lembram de algo assim: o Rio Maças, que forma um dos mais belos vales do país, desapareceu...
Conforme testemunham as fotografias, desde meados de Agosto que a água deixou de correr nesta região do Nordeste Transmontano. À escassez de chuvas do Inverno juntou-se uma Primavera anormalmente seca e um Verão de elevadas temperaturas que conduziram a este desfecho. O desaparecimento do rio acarreta consequências sérias para a Fauna e Flora locais, contudo trata-se de um evento transitório, integrado num ciclo natural mais amplo. 
O inédito deste registo deve-se também a um outro factor: é que o Rio Maças, desde a nascente até à foz em pleno Sabor, é um rio selvagem, com uma ausência quase completa de barragens. E nos rios selvagens verifica-se isto mesmo: períodos de seca alternados com cheias, estabelecendo condições ambientais extremamente desafiantes para todos os seres vivos. E é a partir de laboratórios naturais de extremos como este que se desenvolve a biodiversidade...