27 março 2008

O líder da escarpa

Exemplar macho de Cabra-montês (Capra pyrenaica) fotografado no seu ambiente natural.

O dia amanhece naquele vale remoto e as escarpas graniticas que ladeiam o estreito ribeiro são progressivamente banhadas pela luz do Sol. Subitamente, um exemplar do mais ágil mamífero ibérico, a Cabra-montês (Capra pyrenaica), destaca-se na paisagem quando salta de um pequeno ressalto para uma parede aparentemente vertical. De seguida dezenas de outras cabras seguem o líder do grupo, evoluindo por rotas impossíveis de escalada da montanha.
Este espectáculo da Natureza ocorre em Portugal desde 1999, altura em que, a partir do Parque Natural Baixa Limia-Serra do Xurés localizado na Galiza, 2 grupos de cabra-montês (subespécie victoriae) escaparam de um cercado de aclimatação e ocuparam o contíguo Parque Nacional da Peneda-Gerês já em terras lusas.
Desde então estes grupos fundadores prosperaram e actualmente ocupam alguns dos mais belos locais do único Parque Nacional português. Mais: a nível europeu as serras do Alto Minho são dos raros locais onde populações selvagens de cabras-montesas sofrem a predação selectiva exercida por populações estáveis de Lobo-ibérico (Canis lupus signatus).
Apesar de os últimos anos terem-se revelados auspiciosos, a cabra-montês atravessa um risco real de extinção no nosso país devido à baixa variabilidade genética relacionada com o número reduzido de indíviduos fundadores. O Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (ICNB) atribui-lhe portanto o mais desfavorável estatuto de conservação: Criticamente em Perigo de Extinção. Oxalá os portugueses tenham aprendido com erros do passado e possam conservar esta autêntica jóia da Fauna Ibérica.

19 março 2008

Seguimento da Alcateia de Bragança - 2007 (7)

Território de caça de Tartaranhão-azulado (Circus cyaneus), espécie com estatuto de conservação de Criticamente em Perigo. Ao fundo inicia-se o vale onde a Alcateia de Bragança provavelmente terá criado em 2007.

Fotografia de Marta (Martes martes) obtida cerca das 3 e meia da manhã de uma fria noite de Inverno em local de presença habitual de Lobo-ibérico (Canis lupus signatus).

(continuação do post anterior)

Conclusão

Ao longo do ano 2007 não foi possível confirmar a reprodução da Alcateia de Bragança. Constata-se que este grupo familiar continua presente na área de estudo e que aplicando os critérios estabelecidos pelo ICNB e pelo Grupo Lobo aquando do último Censo Nacional de Lobo (2002-2003) a sua reprodução pode-se considerar como provável.
Durante 2007 não se verificou qualquer ameaça relevante sobre o ecossistema contudo paira a ameaça de construção de um parque eólico de grandes dimensões próximo aos 2 vales que tradicionalmente são utilizados este grupo familiar de Lobos-ibéricos (Canis lupus signatus) para a reprodução. Simultaneamente encontra-se em discussão a possibilidade de construção de uma via com perfil de auto-estrada ou via rápida no limite Oeste do seu território.
O distrito de Bragança e concretamente o território percorrido por esta alcateia constituem uma das melhores áreas para a Conservação da Natureza em Portugal. Entre as espécies ameaçadas que aqui habitam e que foram detectadas no presente estudo destacam-se para além do lobo (estatuto: em perigo), a Marta (Martes martes; estatuto: informação insuficiente), a Águia-real (Aquila chrysaetos; estatuto: em perigo) ou o Tartaranhão-azulado (Circus cyaneus; estatuto: criticamente em perigo).
Assume assim uma maior importância a continuação do esforço de campo ao longo de 2008 com vista a determinar a evolução destas espécies e a identificar os factores de ameaça sobre o território. Nesse sentido os resultados desse trabalho serão disponibilizados às entidades responsáveis pela Conservação da Natureza do Distrito de Bragança e publicados neste blog com salvaguarda do anonimato dos locais por onde deambulam estes fabulosos exemplares da fauna portuguesa.