30 outubro 2008

Tritão-marmorado: exemplo de beleza no mundo dos anfíbios

Exemplar de Tritão-marmorado (Triturus marmoratus).

Ao final da tarde o anfíbio avançava desajeitado pelo trilho tendo sido salvo in extremis de uma pisadela provavelmente letal pelo olhar atento de um amigo. Perante nós encontrava-se um anfíbio peculiar, com cerca de 5 cm de comprimento, dorso de coloração esverdeada atravessado por uma vistosa linha alaranjada e manchas escuras de tamanho variável: o Tritão-marmorado (Triturus marmoratus).
Esta espécie apresenta uma ampla distribuição em Portugal. Com efeito habita uma grande variedade de biótopos desde as zonas agrícolas costeiras às altas montanhas do Norte e Centro de Portugal, desde que esteja satisfeita uma condição essencial: a proximidade da água, sob a forma de charcos, tanques, lagoas ou albufeiras.
Tal como todos os anfíbios o tritão-marmorado depende do meio aquático para se reproduzir. Os machos são os primeiros a chegar ao local de acasalamento, habitualmente massas de água paradas ou de baixa corrente com vegetação aquática associada. A partir do mês de Outubro, com a chegada das fêmeas, inicia-se a reprodução que culmina com a postura de entre 150 a 400 ovos.
No Verão seguinte completa-se a fase larvar e observam-se os primeiros juvenis que, se conseguirem sobreviver à predação pela Cobra-de-água (Natrix natrix) ou Cegonha-branca (Ciconia ciconia), poderão viver em estado selvagem por mais de 10 anos.      

23 outubro 2008

Tartaranhão-caçador: símbolo do equilíbrio entre o Homem e a Natureza

Fêmea de Tartaranhão-caçador (Circus pygargus) em vôo e em local habitual de pouso, próximo ao sítio de criação de 2008 nos arredores do Parque Natural do Douro Internacional.

O Tartaranhão-caçador (Circus pygargus) é uma ave de rapina vinculada às extensões cerealíferas. Com efeito trata-se de um visitante estival que tem predilecção por grandes áreas de vegetação rasteira, como os campos de cereais alentejanos ou os planaltos recobertos de matos das montanhas do Norte e Centro de Portugal.
Devido ao abandono das práticas agrícolas extensivas e à diminuição da cultura de sequeiro, com a consequente proliferação de matos densos e floresta, o tartaranhão-caçador tem sofrido com a redução de habitat disponível. O seu estatuto de conservação é desfavorável: em Portugal considera-se Em Perigo de Extinção (in Livro Vermelhos dos Vertebrados de Portugal, ICN) e em Espanha encontra-se classificado como Vulnerável (in Guia de las Aves de España, SEO/Birdlife).
Calcula-se que em toda a Península Ibérica existam cerca de 4 mil casais reprodutores com uma tendência populacional regressiva, pelo menos no nosso país.
Ave de grande beleza, caçador de aves, pequenos mamíferos, répteis e grandes insectos, verdadeiro símbolo de qualidade ambiental da agricultura respeitosa para com a Natureza, o tartaranhão-caçador é acima de tudo um barómetro do impacto do Homem no Meio Ambiente: se as suas populações prosperarem, se os nossos filhos tiverem o privilégio de o observar em estado selvagem, tal significa que a nossa geração aprendeu a respeitar os antigos legados de uma agricultura ao sabor dos ciclos naturais, menos dependente de químicos, mais... "biológica".
Esperemos que o futuro assim o demonstre!

17 outubro 2008

Abelharuco-europeu e o primado da cor na Natureza


Retrato de uma Natureza sempre impressionante nas suas formas e cores: o Abelharuco-europeu (Merops apiaster).

O Abelharuco-europeu (Merops apiaster) é a ave mais colorida e um dos maiores expoentes de diversidade da Fauna Ibérica. Vindo da África do Sul atravessa o deserto do Sara durante o mês de Abril para aproveitar o banquete de insectos (principalmente abelhas e vespas) da área mediterrânea. Se a disponibilidade de alimento for adequada elege então barrancos arenosos para escavar o seu ninho onde deposita de 2 a 6 ovos. Apresenta hábitos gregários pelo que é comum observarem-se grupos com várias dezenas de indivíduos.
Agora que chegamos ao final do mês de Outubro os últimos abelharucos abandonam o nosso país contribuindo para o cinzentismo destes dias. Felizmente o seu estatuto de conservação é favorável (calcula-se em mais de 100 000 os casais reprodutores de Portugal e Espanha) pelo que é reconfortante saber que na próxima Primavera receberemos de novo a visita destes arco-íris voadores.

08 outubro 2008

Lince-ibérico: sinais de um fantasma



Rastro de pegadas de Lince-ibérico (Lynx pardina) e habitat "linceiro" no Sul da Península Ibérica.

O Lince-ibérico (Lynx pardina) é um dos mais belos mamíferos europeus com um porte, graciosidade e agilidade apenas possível de encontrar na família dos felinos. Infelizmente é também um dos animais mais ameaçados de extinção a nível mundial com uma população estimada de cerca de 200 indivíduos em estado selvagem. Os seus principais redutos encontram-se nos Parques Nacional e Natural de Doñana assim como na Sierra Morena Oriental, nomeadamente no Parque Natural Sierra de Andújar.
É um especialista do bosque mediterrâneo tranquilo, com estrutura tipo mosaico que combine densa cobertura vegetal com prados de alimentação para a sua presa principal, o Coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus). Os adultos são bastantes territoriais não permitindo a entrada de indivíduos do mesmo sexo numa área de 5 a 20 quilómetros quadrados.
Apresenta actividade crepuscular e nocturna o que aliado à escassez de efectivos torna bastante difícil a sua observação na Natureza contudo deixam com frequência as suas pegadas e dejectos em corta-fogos e cruzamento de caminhos. Caminhando numa zona "linceira" observei e fotografei as marcas da sua presença. São sinais de um fantasma da nossa fauna, cada vez mais raro. Os próximos anos serão fundamentais para a conservação do "felino mais ameaçado do mundo": será a nossa a última geração a observá-lo na Natureza?