09 dezembro 2013

Amanita muscaria: o cogumelo mais famoso



Neste dias de Outono caminhando pelas florestas portugueses é possível encontrar o cogumelo mais famoso de todos: a Amanita muscaria.
Caracterizada pelo chapéu vermelho e pelas características verrugas esbranquiçadas este espécie associa-se a uma imaginário comum de cogumelo, tendo sido descrita em obras tão icónicas como Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll ou no filme Fantasia da Disney.
A Amanita muscaria apresenta propriedades psicoactivas e alucinógenas, podendo induzir o estabelecimento de sonolência e de visões associadas. Em casos-limite pode levar à morte do indivíduo que a consome. Cogumelo modelo, astro maior dos nossos bosques tem tanto de bela como de perigosa...

18 novembro 2013

Desabafo pela perda de mais um dos lobos portugueses...


A recente morte de um dos exemplares de Lobo-ibérico (Canis lupus signatus), acompanhada por telemetria no âmbito do programa de seguimento da população lupina do Parque Nacional da Peneda-Gerês, representa um acontecimento triste e lamentável para a espécie e para a área protegida.
A sua gravidade é ainda mais relevante pelo facto de se tratar de uma fêmea reprodutora, que este ano tinha tido a sua primeira ninhada. Junto portanto a minha indignação à de outros antes de mim e assino a petição online com o objectivo de pressionar as autoridades competentes a actuar contra a perseguição ilegal do lobo (caso também pretenda assinar tecle aqui).

Há algo que me parece oportuno referir: a zona da Gavieira, onde decorreram os factos, é belíssima e representa um sítio histórico de presença do lobo. Partilha algumas semelhanças com outros locais do país, também de elevado valor paisagístico, onde o lobo ainda ocorre, como o maciço do Alvão, as estribações de Montemuro ou o planalto de Leomil. Nestas áreas foram recentemente rasgadas vias de acesso para a colocação de parques eólicos o que leva a que, infelizmente, a facilitação da acessibilidade a determinados locais remotos potencie a ocorrência de eventos tão tristes como este. Quando documento a actividade do lobo durante o dia no Alvão, quando percorro os sítios de criação da espécie no Montemuro ou em Leomil, ao lado, perto, demasiado perto, passam invariavelmente estradões que servem aerogeradores. E estas vias são utilizadas por todos: por mim, pela população local no seu esforço de sobrevivência diária, por caçadores conscenciosos e por indivíduos de índole duvidosa.
A nossa culpa enquanto sociedade foi, em seu tempo, a de não termos determinado zonas de não-intervenção, locais de dimensão variável onde não pudéssemos edificar, aceder. O que significaria, claro, que Lisboa teria de pagar directamente a estas freguesias pelo menos o mesmo, senão mais, daquilo que as freguesias vizinhas com parques eólicos recebem. Só faz sentido tratar uma doença especifica se o doente, no seu todo, estiver bem; só faz sentido preservar uma espécie se o espaço onde esta vive se encontrar integro, capaz de a acolher.
Foi na Serra da Peneda onde há muitos anos ouvi pela primeira vez os lobos a uivarem. Provavelmente os antepassados da alcateia à qual pertencia a "Bragadinha". A melancolia desse coro acompanha-me hoje na escrita deste texto.

22 setembro 2013

Lameiros do Norte português


Lameiros do Parque Natural do Alvão.

  No Norte de Portugal abundam os lameiros, principalmente em áreas de montanha. Os lameiros mais não são do que áreas de pastagem permanente, providos de um sistema de rega desenvolvida desde tempos imemoriais e que se baseia na gravidade. 
  A abundância de água ao longo de todo o ano permite o desenvolvimento de uma biodiversidade assinalável. Destacam-se as plantas com elevado estatuto de protecção, nomeadamente diversas orquídeas raras como a Erva-língua (Serapias lingua).
  Para além desta riqueza natural os lameiros propiciam uma interrupção na paisagem (florestal ou rochosa) possuindo um inegável valor estético, como se pode constatar nas imagens em anexo. Mais uma prova de que a intervenção do Homem na Natureza não tem de ser sempre negativa.

23 agosto 2013

Alimentação das crias


 Texugo e Lobo fotografados a transportarem a melhor parte das suas refeições para as respectivas crias.
Norte de Portugal, Julho de 2013.

  A adequada alimentação da prole constitui uma prioridade para todas as espécies. Crias bem alimentadas são menos susceptíveis a infecções bacterianas ou por parasitas, desenvolvem-se de forma mais harmoniosa e atingem com maior rapidez a aptidão física necessária para sobreviverem.
  As imagens em anexo em que um Texugo (Meles meles) transporta entre as presas uma Lebre (Lepus granatensis)  e um Lobo (Canis lupus signatus) transporta parte de um Veado (Cervus elaphus) para os respectivos covis mais não são de que uma outra face, pouco testemunhada, desse mesmo facto.
  O que estes animais estão a fazer é acima de tudo assegurar a sobrevivência das suas crias com os melhores alimentos que conseguem obter. Estas fotos foram obtidas em estado selvagem num sítio bastante tranquilo do Interior Norte português. Representam uma Natureza bem viva, selvagem, que apesar de raramente podermos observar encontra-se ainda bastante preservada no nosso país. Acreditem. Basta olhar para as imagens... 

16 julho 2013

Carriça: a habitante das cavernas.

 A pequena Carriça (Troglodytes troglodytes). 

 A Carriça (Troglodytes troglodytes), com apenas 10 cm de comprimento, é uma das aves mais pequenas e comuns da avifauna portuguesa. A sua silhueta, facilmente identificada pela cauda pequena e "arrebitada", pode ser observada ao longo de todo o ano e por todo o país com excepção de vastas áreas do Alentejo.
  O nome latino, troglodita ou habitante das cavernas, refere-se ao seu hábito de entrar em pequenas cavidades de forma a capturar os insectos que constituem a base da sua alimentação. Apesar do seu pequeno tamanho trata-se de uma ave com um canto potente e diverso que enriquece de sobremaneira os locais onde habita.

22 junho 2013

Amores de Verão


Cria de Corço (Capreolus capreolus) fotografada há poucas semanas no Norte de Portugal.

 O Corço (Capreolus capreolus) é um dos herbívoros mais esquivos e elegantes da Fauna Ibérica que se caracteriza por uma característica muito particular no seu ciclo de vida: o processo de ovo-implantação retardada.
  O período de acasalamento ocorre em pleno estio, durante os meses de Julho e Agosto. Após as primeiras fases de desenvolvimento do embrião o período de gestação é interrompido, reiniciando-se em Dezembro-Janeiro, com o nascimento das crias a verificar-se apenas em Maio-Junho. Assim, embora temporalmente decorra um período de cerca de 10 meses, a verdadeira gestação compreende um período de 6 meses.
  As fotos acima reproduzidas, obtidas na noite de 8 de Junho, comprovam isso mesmo: uma cria de corço nascida há poucos dias, fruto de um amor do Verão de 2012...

03 junho 2013

Côa revisitado


Côa selvagem após as chuvas abundantes do Inverno e Primavera. 

 Depois de alguns anos sem visitar o Vale do Côa tive o prazer de há poucas semanas regressar a este paraíso escarpado do Interior Português. A abertura do Museu do Côa e os postos de trabalho a ele associados, a autenticidade da paisagem do Vale versus a proliferação próxima de barragens no Douro faz com que neste momento e comparativamente a anos atrás a não construção da Barragem do Côa seja uma opção mais compreendida e aceite pelas populações locais.
  Essa paz que se estabeleceu entre o Homem e o Rio é retribuída pela Natureza: por todo o lado se observa a recuperação do coberto vegetal autóctone, a solidão e o isolamento dos fraguedos permite a manutenção das condições óptimas para o estabelecimento das aves rupícolas (veja-se a elevada densidade de Abutre-do-Egipto, uma das maiores do país). Nunca como agora o Côa esteve tão belo...

08 maio 2013

Cia, o passeriforme mascarado

A Cia (Emberiza cia) é uma das aves mais típicas das serras e escarpas fluviais no Interior de Portugal.

A Cia (Emberiza cia) é uma pequena ave residente no Mediterrâneo e nas cordilheiras montanhosas do Paleártico, desde a Sibéria até ao Noroeste africano. É uma espécie muito sedentária, permanecendo nos territórios de reprodução ao longo de todo o ciclo anual.
Enquanto no nosso país é considerada uma espécie com estatuto de conservação Pouco Preocupante, a nível global encontra-se ameaçada. Em Portugal distribui-se principalmente pela metade norte do território e pelas zonas serranas algarvias, estando praticamente ausente da faixa litoral. Ocorre como nidificante principalmente próximo a afloramentos rochosos, nomeadamente em escarpas fluviais rodeadas por matos de gramíneas. 
Constrói o seu ninho próximo ao solo e assume um comportamento esquivo, inconspícuo. Os seus hábitos alimentares são essencialmente granívoros embora ocasionalmente também possa consumir invertebrados durante a época de reprodução. 
Identifica-se facilmente pelo característico padrão riscado da cabeça, possuindo listras escuras em forma de tridente na zona facial, que contrastam com o fundo cinzento-azulado, sendo indubitavelmente um dos passeriformes mais atractivos da nossa fauna.

17 abril 2013

A utilidade dos espinhos

Pormenor de espinhos em arbusto de bosque mediterrâneo. 

Os espinhos que encontramos em várias plantas podem ser estruturas resultantes da modificação de um ramo, folha ou raiz ou "falsos espinhos", denominados de acúleos, os quais são uma espécie de pêlos enrijecidos compostos pela presença de lignina. A sua utilidade é indiscutível: tanto podem servir como reservatórios de líquido como defender a planta contra ameaças à sua integridade. 
Embora desagradáveis ao toque traduzem uma adaptação evolutiva indispensável ao sucesso das plantas. A repulsa associada aos espinhos é utilizada como arma por vários vertebrados, desde aves a mamíferos, desde herbívoros a carnívoros, que a eles recorrem para aqui desenvolverem as acções mais delicadas associadas ao seu ciclo de vida, como a reprodução.

25 março 2013

O ano do Esquilo

Esquilo (Sciurus vulgaris) fotografado nas últimas semanas no Norte do país.

Há mais de 10 anos atrás o Esquilo (Sciurus vulgaris) começou a ser visto com mais frequência no nosso país, primeiro nas montanhas do Norte e depois cada vez mais a Sul.
Tratava-se de um regresso bem-vindo, de uma espécie que sempre povoou o imaginário colectivo português, parte integrante da nossa cultura e da relação com a Natureza.
Nos últimos anos o esquilo, apesar de continuar a colonizar territórios a Sul do país, tornou-se mais raro, menos conspícuo, observá-lo no campo tornou-se menos frequente. Mas nos últimos meses de 2012 e neste início de 2013 estações fotográficas automáticas colocadas a Norte e Sul do Douro voltaram a detectar com frequência esta espécie. Parece que vem aí mais um ano do esquilo...

10 março 2013

O duro Inverno





 Neve e trilhos intransitáveis: eis o Inverno, versão 2013.

Este tem sido um Inverno duro no que se refere às condições meteorológicas. No Norte do país tem sido frequentes os nevões em áreas do Interior, assim como os ventos fortes.
As fotografias em anexo revelam as dificuldades de mobilidade de raposas e lebres, ou a caída de árvores em trilhos que perturbam o Homem e animais. É difícil acreditar que dentro de algumas semanas inicia-se a época de reprodução...

04 fevereiro 2013

Seguimento das Alcateias de Bragança durante o ano 2010 (conclusão)


Lobo-ibérico da Alcateia de Bragança Norte próximo ao Centro de Actividade fotografado às 12 horas de um dia de Maio (selecionar a imagem para ampliar).

Alcateia de Bragança Sul a patrulhar o território numa noite chuvosa de Março de 2010 (selecionar play no canto inferior esquerdo para observar vídeo).

Discussão
O seguimento ao longo de vários anos de alcateias próximo à cidade de Bragança permite a aquisição de conhecimentos aprofundados sobre os grupos familiares, a evolução populacional das restantes espécies com as quais comparte o território e os factores de ameaça para a sua conservação.
O dado mais importante a reter do ano 2010 é a manutenção das condições ambientais nesta área do território português para o estabelecimento de uma pirâmide ecológica completa. Com efeito não só se mantiveram as condições de tranquilidade e integridade do território como não ocorreram alterações marcadas na utilização do mesmo.
Desta forma, e como seria expectável, de acordo com os dados de anos anteriores, uma das alcateias não se reproduziu em 2010: a Alcateia de Bragança Sul manteve o seu local de cria, enquanto a Alcateia de Bragança Norte com elevada probabilidade não terá criado. Conforme anteriormente destacado neste documento, em 2009 a distância entre os centros de reprodução destas alcateias foi pouco superior a 4 quilómetros. Assume-se que a tensão entre estes 2 grupos familiares na marcação e defesa do território deverá ter sido significativa nesta altura. Paralelamente verifica-se, relativamente ao ano anterior, uma descida na detecção das 3 principais presas do lobo (javali, veado e corço) de cerca de 21% o que poderá igualmente ter contribuído para a ausência de criação na Alcateia de Bragança Norte (entre os dois territórios a descida na detecção das presas foi mais acentuada no território Setentrional – 31% – do que no Meridional – 15%). As alcateias mantêm os seus centros de actividade e será bastante interessante verificar o que vai ocorrer ao longo de 2011 (dados a publicar brevemente neste blogue).
De certa forma confirma-se que a monitorização contínua de uma população de lobo ao longo de mais de quatro anos, numa mesma área de estudo e com um esforço de campo relativamente semelhante permite a obtenção de alguns indícios que de outra forma não seria possível alcançar.

Agradecimentos
Agradeço ao Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) a autorização para proceder ao presente trabalho de campo.
Agradeço ao Dr. Luís Moreira o apoio imprescindível que presta na realização deste trabalho.
Agradeço ao Serviço Especial de Protecção da Natureza (SEPNA) toda a motivação e interesse demonstrados na recuperação de material fotográfico desaparecido e entretanto recuperado aquando da realização deste trabalho.