A recente morte de um dos exemplares de Lobo-ibérico (Canis lupus signatus), acompanhada por telemetria no âmbito do programa de seguimento da população lupina do Parque Nacional da Peneda-Gerês, representa um acontecimento triste e lamentável para a espécie e para a área protegida.
A sua gravidade é ainda mais relevante pelo facto de se tratar de uma fêmea reprodutora, que este ano tinha tido a sua primeira ninhada. Junto portanto a minha indignação à de outros antes de mim e assino a petição online com o objectivo de pressionar as autoridades competentes a actuar contra a perseguição ilegal do lobo (caso também pretenda assinar tecle aqui).
Há algo que me parece oportuno referir: a zona da Gavieira, onde decorreram os factos, é belíssima e representa um sítio histórico de presença do lobo. Partilha algumas semelhanças com outros locais do país, também de elevado valor paisagístico, onde o lobo ainda ocorre, como o maciço do Alvão, as estribações de Montemuro ou o planalto de Leomil. Nestas áreas foram recentemente rasgadas vias de acesso para a colocação de parques eólicos o que leva a que, infelizmente, a facilitação da acessibilidade a determinados locais remotos potencie a ocorrência de eventos tão tristes como este. Quando documento a actividade do lobo durante o dia no Alvão, quando percorro os sítios de criação da espécie no Montemuro ou em Leomil, ao lado, perto, demasiado perto, passam invariavelmente estradões que servem aerogeradores. E estas vias são utilizadas por todos: por mim, pela população local no seu esforço de sobrevivência diária, por caçadores conscenciosos e por indivíduos de índole duvidosa.
A nossa culpa enquanto sociedade foi, em seu tempo, a de não termos determinado zonas de não-intervenção, locais de dimensão variável onde não pudéssemos edificar, aceder. O que significaria, claro, que Lisboa teria de pagar directamente a estas freguesias pelo menos o mesmo, senão mais, daquilo que as freguesias vizinhas com parques eólicos recebem. Só faz sentido tratar uma doença especifica se o doente, no seu todo, estiver bem; só faz sentido preservar uma espécie se o espaço onde esta vive se encontrar integro, capaz de a acolher.
Foi na Serra da Peneda onde há muitos anos ouvi pela primeira vez os lobos a uivarem. Provavelmente os antepassados da alcateia à qual pertencia a "Bragadinha". A melancolia desse coro acompanha-me hoje na escrita deste texto.