31 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - 5ª parte


Esta floresta apesar de incluída entre as áreas protegidas do território português, enfrenta sérios problemas de conservação:

  1. Os incêndios florestais, originados principalmente por queimadas de pastores, são uma constante durante todo o ano. Não deixa de ser elucidativo o facto de que com um comprimento máximo de 3 km, esta seja uma das maiores florestas do concelho de Arcos de Valdevez.
  2. A caça causa grande pressão sobre a fauna, sendo frequente a passagem de caçadores com os seus cães pelo interior da floresta.
    A vigilância por parte das autoridades competentes é praticamente inexistente. Durante os vários meses de trabalho de campo nunca os autores encontraram qualquer agente de autoridade.
  3. O sobrepastoreio (principalmente bovino) é uma realidade das serras da Peneda e do Soajo. Embora a pastorícia seja uma actividade secular e possa beneficiar determinadas espécies, como o lobo, quando em excesso reduz o sub-bosque da floresta, impede a sua regeneração e contribui decisivamente para o empobrecimento da flora.
  4. Os cães assilvestrados constituem um dos graves problemas da área de estudo pela predação que podem exercer sobre as presas silvestres e o gado doméstico (com os danos a serem injustamente imputados ao lobo), podendo inclusive atacar o Homem.
  5. A existência de 2 parques de campismo praticamente contíguos, pode originar perturbações importantes, principalmente durante a época de reprodução e nascimento de várias espécies de mamíferos e aves (Primavera e Verão).

26 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - 4ª parte




A comunidade de predadores da mata inclui um número importante de cães provenientes das aldeias vizinhas ou abandonados pelos seus donos, como se pode observar no gráfico 3.
Entre os carnívoros de pequeno e médio porte contam-se a fuinha, a gineta e a raposa. A primeira habita o extremo ocidental da floresta, mais humanizado, enquanto a segunda prefere as zonas a oriente, mais tranquilas. Já a raposa tem uma distribuição ubíqua.
No topo da pirâmide ecológica encontra-se o Lobo, que patrulha os principais trilhos das serras da Peneda e do Soajo.

17 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - 3ª parte




Obtiveram-se 42 fotos de mamíferos assim como várias fotos de passeriformes. Em média foi conseguida 1 foto por cada 5,5 dias de amostragem.
Como se pode ver no gráfico 1 foram fotografados lobo, raposa, gineta, fuinha, corço, javali, rato-do-bosque, cães assilvestrados e gado bovino. Os mamíferos mais fotografados foram a raposa, a fuinha, o corço e o javali.
Refira-se que a gineta e a fuinha têm territórios bem delimitados, praticamente não existindo sobreposição entre as duas espécies, enquanto que, por exemplo, a raposa pode ser encontrada por toda a floresta.
A área de estudo goza ainda de alguma tranquilidade motivo pelo qual foi possível documentar a actividade diurna de alguns mamíferos, como se observa no gráfico 2.

10 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez – 2ª parte


Entre Novembro de 2004 e Fevereiro de 2005, foram percorridos os principais trilhos de uma mata pertencente ao concelho dos Arcos de Valdevez, perfazendo um total de mais de 80 km, e colocaram-se câmaras fotográficas activadas por sensor de movimento. O objectivo era o de recolher o máximo de informação possível sobre os animais que frequentam a floresta, a sua distribuição e hábitos.
Nos trilhos mais importantes encontraram-se dejectos de Lobo (Canis lupus), Raposa (Vulpes vulpes), Corço (Capreolus capreolus), Javali (Sus scrofa) e Gineta (Genetta genetta). O único mamífero directamente observado foi o Esquilo (Sciurus vulgaris), do qual se podem encontrar indícios de presença por toda a floresta.
Foram avistados ou escutados várias espécies de aves como a Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo), Gavião (Accipiter nisus), Gaio-comum (Garrulus glandarius), Pica-pau-malhado-grande (Dendrocopus major), Pica-pau verde (Picus viridis), Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), Chapim-azul (Parus caeruleus), Chapim-real (Parus major), Chapim-rabilongo (Aegithalos caudaus), Chapim-de-poupa (Parus Cristatus), Tentilhão (Fringilla coelebs), Verdilhão (Carduelis chloris).
As câmaras fotográficas activadas por sensor de movimento foram colocadas entre 7 de Novembro de 2004 e 26 de Fevereiro de 2005. O número de câmaras em campo variou entre 2 e 4. Estiveram activas por um total de 232 dias, cobrindo diferentes biótopos florestais, a diferentes altitudes. Durante este período de tempo as condições meteorológicas caracterizaram-se por tempo frio e seco com temperaturas médias próximas dos 5º C.

04 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - 1ª parte


Nos contrafortes da Serra do Soajo, por entre uma paisagem devastada por queimadas sucessivas, subsiste até aos dias de hoje uma importante mata de frondosas e coníferas. Trata-se duma floresta plantada pelos Serviços Florestais, composta por árvores com algumas dezenas de anos, e que assume um importante papel como refúgio para a fauna do alto Minho.
A mata estende-se entre os 550 e os 1200 metros de altitude e compreende uma área de 6 Km quadrados. Nas altitudes mais baixas existem várias estruturas importantes como 2 parques de campismo, um centro hípico e uma estrada Nacional; o ponto mais elevado alcança os 1216 m de altitude e é uma zona isolada de difícil acesso; a ocidente está limitada por um curso fluvial; a oriente o limite é menos definido devido aos variados incêndios que anos após ano lhe reduzem a dimensão.
O coberto vegetal é variado, composto por manchas de Pinheiros-silvestres (Pinus sylvestris), Ciprestes (Chamaecyparis lawsoniana), Castanheiros (Castanea Sativa), Faias (Fagus sylvatica), Carvalhos (Quercus robur) e Bétulas (Bétula pubescens). Dispersos pelas manchas de caducifólias encontram-se alguns exemplares de azevinho (Ilex aquifolium). Destaca-se na floresta uma importante diversidade de fungos pois encontramo-nos na zona mais chuvosa do país, com cerca de 3000 mm de precipitação média anual.