28 maio 2007

Evolução das populações de aves de rapina na Península Ibérica (3)

Exemplar adulto de Falcão-abelheiro (Pernis apivorus)

(continuação do post anterior)

O Açor (Accipiter gentilis) é uma ave de rapina pouco comum que se distribui principalmente pelo Norte e Centro de Portugal. Prefere meios florestais, nomeadamente carvalhais e pinhais, intercalados com clareiras (aspecto "em mosaico" da paisagem). Em toda a Península Ibérica existirão entre 3500 a 6500 casais reprodutores segundo os dados da Sociedade Espanhola de Ornitologia/Birdlife.

O Gavião (Accipiter nisus), morfologicamente aparentado com o açor mas de dimensões mais reduzidas, é menos exigente que este último no que respeita ao território que elege para nidificar. Assim é possível encontrar o gavião em pequenas florestas de carvalho ou de pinheiro-bravo compostas por árvores ainda jovens, principalmente no Norte e Centro do nosso país. Para a Península a estimativa populacional é de entre 6 a 10 mil parelhas reprodutoras.

A Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) é a mais comum de todas as nossas aves de rapina. Conforme se pode comprovar visitando o polaco Parque Nacional de Bialowieza, que compreende a maior e mais preservada floresta das terras baixas da Europa, trata-se de uma ave eminentemente florestal mas que no nosso país adaptou-se a sobreviver em terrenos abertos e bosques residuais. Mais de 15 mil casais povoam os céus de Portugal e Espanha e é frequente observá-la pousada nas árvores ou nos postes que ladeiam as estradas.

O Falcão-abelheiro (Pernis apivorus) é um visitante estival das montanhas do extremo Norte português, nomeadamente das serras da Peneda, Gerês, Larouco, Alvão/Marão e Nogueira, estando em comunicação com os principais núcleos reprodutores das cordilheiras Cantábrica e Pirenaica. De forma menos frequente surge também mais a Sul principalmente associado a montados de sobro. Com características muito próximas à conspícua águia-de-asa-redonda distingue-se desta pela cabeça fina e acinzentada e pela cauda com 2 bandas junto às patas. Por toda a Península contam-se menos de 1000 parelhas pelo que o falcão-abelheiro, assim chamado pelo hábito de desenterrar ninhos de vespas, é uma ave com estatudo de conservação desfavorável, classificada como "vulnerável".

(continua no próximo post)

22 maio 2007

Evolução das populações de aves de rapina na Península Ibérica (2)

Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus), colonizador recente do Interior Centro e Interior Norte de Portugal.

(continuação do post anterior)

O Milhafre-real (Milvus milvus) é na actualidade uma das rapinas mais ameaçadas da Península Ibérica. Entre os anos 2000 e 2005 a sua população baixou de cerca de 3 a 4 mil casais reprodutores para pouco mais de 2 mil. Está classificado na categoria "Em perigo de extinção" segundo o Libro Rojo de las Aves de España e "Criticamente em perigo" pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, onde se estima uma população residente de cerca de 50 animais. As causas para este declínio não estão completamente esclarecidas embora se possa referir a utilização de iscos envenenados para controlo de predadores, nomeadamente do Lobo-ibérico (Canis lupus signatus) nas serras do Norte português, como um dos principais factores de declínio.

O Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus), uma das mais belas aves da nossa fauna associada a montados abertos de sobro (Quercus suber) encontra-se em aumento populacional. Segundo a Sociedade Espanhola de Ornitologia/Birdlife existirão na actualidade entre 500 a 1000 parelhas reprodutoras distribuídas pelos dois países. Em Portugal merece particular referência a recente expansão desta espécie para a província de Trás-os-Montes.

O Tartaranhão-ruivo-dos-pauis (Circus aeruginosus), a ave de rapina por excelência das zonas húmidas ibéricas, também atravessa um bom momento. Nos últimos 5 anos o número de casais reprodutores aumentou de aproximadamente 500 para mais de 850. A ria de Aveiro e os estuários do Tejo e do Sado constituem locais privilegiados para a sua observação no nosso país, principalmente no Inverno quando somos visitados por aves provenientes do Centro e Norte da Europa.

O Tartaranhão-azulado (Circus cyaneus) apresenta neste início de milénio um efectivo estabilizado em Espanha de cerca de 1000 parelhas reprodutoras. Em Portugal a sua situação é menos favorável: a população reprodutora, confinada às zonas mais agrestes das serras nortenhas, é exígua (menos de 20 casais?). Está classificado entre nós como "Criticamente em perigo" e a sua extinção como nidificante pode tornar-se uma realidade a curto/médio prazo.

O Tartanhão-caçador (Circus pygargus), visitante estival dos nossos campos de cereais, encontra-se provavelmente em aumento populacional. Quatro mil casais distribuem-se pela Península Ibérica, principalmente na metade Oeste. Nas terras lusas o abandono da cerealicultura extensiva pode comprometer o futuro desta espécie pelo que se justifica a classificação de "Em perigo de extinção" atribuída pelo Livro Vermelho dos Vertebrados. Portugal concentra cerca de 1/10 da população europeia constituindo a zona de Castro Verde um dos seus principais redutos.

(continua no próximo post)

15 maio 2007

Evolução das populações de aves de rapina na Península Ibérica (1)

Casal de Águia-imperial ibérica (Aquila adalberti)

Em Julho do ano 2000 foi publicado o "Guía das las Aves de España - Península, Baleares y Canarias", edição da Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO). Nesse pequeno livro apresentavam-se mapas de distribuição e estimativas populacionais de todas as aves presentes não só em Espanha mas também em Portugal Continental tendo por base mais de 20 anos de trabalho de campo da SEO/Birdlife.
Cinco anos depois, em Dezembro de 2005, foi apresentada a 2ª edição que utilizou o mesmo rigor de amostragem do livro original. Comparando os dois trabalhos é possível constatar a evolução das populações das diferentes espécies de aves da Península Ibérica neste início de milénio. Falarei neste e nos próximos post sobre a situação actual das aves que desde sempre mais fascinam o Homem: as rapinas.

Começando pela rainha das aves verifica-se que em 2000 existiam em Portugal e Espanha cerca de 1200 casais reprodutores de Águia-real (Aquila chrysaetos); cinco anos depois esse número aumentou para 1400 casais. No mapa de distribuição verifica-se uma diminuição da sua frequência no Noroeste português de acordo com a situação difícil que esta ave enfrenta no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

A mais ameaçada das rapinas continua a ser a Águia-imperial ibérica (Aquila adalberti). Os seus efectivos aumentaram consideravelmente contudo o valor total ainda é perigosamente baixo: em 2000 existiam 120 casais; em 2005 esse número aumentou para mais de 200 o que reflecte a existência de novos locais de nidificação, incluindo o Alto Alentejo.

A ave mais rápida do mundo vive um dos seus melhores momentos. O Falcão-peregrino (Falco peregrinus) aumentou neste período de tempo de 1700 para cerca de 2500 casais. O Noroeste português (a densidade de falcão-peregrino no Parque Nacional da Peneda-Gerês é impressionante...) e a Costa Vicentina, para além do vale do Douro, assumem-se como os principais bastiões da espécie no nosso país.

O Peneireiro-das-torres (Falco naumanni) aumentou significativamente a sua população: passou de 8000 parelhas reprodutoras para cerca de 20000 casais! Este incremento deveu-se principalmente à sua evolução favorável no Oeste Andaluz (onde inclusivamente inverna). Em Portugal a sua mancha de distribuição é muito pequena, encontrando-se cerca de 80% dos efectivos nas Zonas de Especial Protecção para as Aves de Castro Verde e Vale do Guadiana, o que a torna particularmente vulnerável.

(continua no próximo post)