28 agosto 2006

O tempo das amoras

Agosto não é só o mês dos incêndios. Por esta altura, em quase todo o território português, um pequeno arbusto, pouco atraente nos restantes meses do ano, revela os seus apetitosos frutos. Falo da Silva, arbusto cientificamente conhecido pelo nome de Rubus ulmifolius, e dos seus rebentos, as amoras.
Nas margens de caminhos ou em terras abandonadas e desde que as temperaturas invernais sejam relativamente suaves prospera o silvado. Constitui em muitas ocasiões um refúgio importante para a fauna com caules que podem atingir os dois metros de altura e espinhos curtos e aguçados.
As amoras amadurecem ao longo do presente mês integrando a dieta de um grande número de espécies animais, desde pequenos passeriformes a carnívoros como a Fuinha (Martes foina) ou a Raposa (Vulpes vulpes). Os frutos são constituídos por 80% de água e uma quantidade apreciável de açúcar, cálcio e vitaminas. Por isso, numa próxima caminhada pelas nossas serras, não perca a oportunidade de provar aquelas duas ou três amoras mais maduras mas deixe as restantes para a fauna selvagem que frequenta esse local...

21 agosto 2006

Vale do Ramiscal - Retratos de uma paisagem desoladora

Cumeada dos Bicos

Couto Grande

Colmadela

Baixo Arroio

Alto Arroio

No jornal Público de Domingo, 20 de Agosto, o director do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), Professor Henrique Pereira, afirma: "Nos vales mais encaixados do Ramiscal não ardeu tudo, e até nos parece que não foi afectada a área onde a águia-real costuma caçar". Já o Instituto da Conservação da Natureza (ICN) em nota para a Imprensa, a 17 de Agosto, refere: "O Ramiscal é refúgio para uma águia-real. A observação da área ardida revela que as áreas onde esta espécie procura alimento mantêm-se intactas."
Com o devido respeito pelos dirigentes e técnicos envolvidos, estas afirmações não correspondem à verdade. A grande maioria das áreas utilizadas para caçar pelo único exemplar de águia-real do PNPG, as que seguramente apresentavam as maiores densidades de Coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), foram totalmente dizimadas pelas chamas. As imagens acima publicadas confirmam isso mesmo.

A águia-real é uma das mais raras aves de rapina portuguesas. Segundo o recém-publicado Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, não existirão mais de 60 casais no nosso país, estando classificada como "Em Perigo de Extinção". No PNPG sobrevive um único exemplar.
O desaparecimento desta águia, a verificar-se, confirmará o que desde há anos se adivinha: mais de 30 anos após a sua criação o Parque Nacional, a jóia de coroa da Conservação da Natureza em Portugal, terá fracassado num dos seus objectivos principais. Será altura para questionar: se no local de máxima protecção ambiental foi possível a extinção de um dos animais selvagens mais emblemáticos, o que esperar da conservação do restante património natural português?

Preocupado com a mais que provável falta de alimento que este exemplar de águia-real e outros vertebrados selvagens actualmente enfrentarão redigi a seguinte carta aberta ao Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês:

"
Exmo. Prof. Henrique Pereira,

Na sequência dos violentos incêndios que entre 9 e 16 de Agosto assolaram os vales do Ramiscal e do Arroio e os cumes mais elevados da Serra da Peneda, grande parte do território de caça do último exemplar de Águia-real (Aquila chrysaetos) do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) foi destruído pelas chamas. Os matos rasteiros da Colmadela, Bicos e Couto Grande habitualmente perscrutados por esta rapina em busca de alimento deixaram de existir.

Actualmente esta águia-real, que felizmente ainda sobrevive, e um grande número de predadores ameaçados de extinção, nos quais se incluem o Lobo (Canis lupus signatus), o Gato-bravo (Felis silvestris), o Tartaranhão-caçador (Circus pygargus) ou o Açor (Accipiter gentilis) vivem um período de grande escassez alimentar. Neste contexto venho pedir-lhe para colocar em prática uma medida de baixo custo económico e que seria de grande valia para os vertebrados selvagens desta área do PNPG: a disponibilização de alimentação suplementar para a fauna. De fácil construção e manutenção, a colocação de alimento numa estrutura preparada para o efeito num qualquer local da Serra da Peneda seria um contributo importante para a sobrevivência de alguns dos animais mais emblemáticos do Parque Nacional.

Antecipadamente agradecido pela atenção prestada, com os melhores cumprimentos,
Miguel Barbosa"

10 agosto 2006

O fim da Mata do Ramiscal


Fotografias recentes do Vale do Ramiscal revelavam a diversidade de habitats: o bosque caducifólio, os prados de altitude e as encostas escarpadas.

Hoje é um dia particularmente triste para a Conservação da Natureza em Portugal. Uma das poucas florestas autóctones que ainda existiam no nosso país, a Mata do Ramiscal, integrada no Parque Nacional da Peneda-Gerês, foi na sua maior parte destruída pelo fogo. Enquanto escrevo estas linhas (noite de 10 de Agosto) Azevinhos (Ilex aquifolium) centenários são consumidos pelas chamas.
O Vale do Ramiscal é um vale remoto do Alto Minho com cerca de 10 quilómetros de extensão que se dispõe no sentido Este-Oeste. A maior parte da sua área está protegida legalmente pelo máximo estatuto de protecção ambiental, o de Parque Nacional.
A Mata do Ramiscal estendia-se ao longo da margem esquerda do rio e era formada sobretudo por exemplares de Carvalho-alvarinho (Quercus robur) de grande porte e pelos supra-citados azevinhos. Neste local deambulava o Lobo-ibérico (Canis lupus signatus), a Águia-real (Aquila chrysaetos) cruzava assiduamente os céus e o Gato-bravo (Felis silvestris) refugiava-se no mais espesso do bosque.
Seria difícil encontrar uma maior diversidade e riqueza natural no nosso país. Nos últimos dois dias tudo isto desapareceu! A Mata do Ramiscal morreu! O solo carbonizado estende-se do rio até ao ponto mais alto da Serra do Soajo. A Natureza lusa está de luto, o Parque Nacional da Peneda-Gerês nunca mais será o mesmo, a minha tristeza é imensa...

04 agosto 2006

Os Carvalhos centenários do Parque Natural de Redes


Carvalhos de Llanu´l Toru, localizados numa das zonas de maior protecção ambiental da Cordilheira Cantábrica

Quem percorre o imponente bosque Saperu no Parque Natural de Redes (Principado de Astúrias), por entre a interminável sucessão de Faias (Fagus sylvatica) descobrirá um espectáculo natural que não esquecerá facilmente.
No mais recôndito da floresta abrigam-se gigantescos exemplares de Carvalho-alvarinho (Quercus robur), com mais de 10 metros de diâmetro. Estas árvores centenárias, inúmeras vezes fustigadas por relâmpagos, ainda hoje dão protecção e alimento a uma rica fauna cantábrica que delas depende. Devido ao seu óptimo estado de conservação provavelmente sobreviverão por mais algumas centenas de anos...