24 novembro 2006

Flores das Montanhas Ibéricas - Cardo Azul


As montanhas de Portugal e Espanha pelas variadas condições climáticas de que são alvo, na transição dos climas mediterrâneo, atlântico e continental, apresentam uma enorme diversidade botânica. Prova disso mesmo é a extraordinária riqueza florística e arbustiva que se constata numa qualquer caminhada pelos cumes das Serras do Gerês, Montesinho, Estrela ou pelas Cordilheiras Cantábrica e Pirenaica.
A planta acima fotografada é conhecida como Cardo Azul (Eryngium bourgatii). Distribui-se pelos prados localizados acima dos 1200 metros de altitude das principais montanhas ibéricas, montanhas do Rif e Atlas no noroeste de África e montanhas da Turquia e do Líbano no Próximo Oriente. Trata-se de uma planta hemicriptófita, ou seja herbácea que vive mais de um ano mas menos de três cujas gemas (botão escamoso que dará origem às folhas e flores) persistem ao nível do solo. A foto foi obtida durante o mês de Julho, período da floração, destacando-se a belissíma cor azul.

19 novembro 2006

Burro - retrato de um animal em extinção


É de entre os animais domésticos um dos mais ligados ao dono, fiel e dotado de uma ternura extrema. Mas sofre do estigma do seu nome e do abandono das actividades agrícolas tradicionais encontrando-se actualmente à beira da extinção. Falo do Burro (Equus asinus), nobre animal que desde tempos imemoriais auxilia o Homem nos trabalhos mais duros.
Domesticado ainda antes do cavalo, o burro sempre foi considerado ao longo dos séculos como o parente pobre dos equídeos não existindo registros que permitam perceber o surgimento das diferentes subespécies europeias.
Com um trabalho pioneiro e de grande mérito o Parque Natural do Douro Internacional procedeu ao estudo e catalogação de todos exemplares existentes no planalto mirandês, concluindo pela existência de um conjunto único de características, suficientes para a classificação de uma raça autóctone local.
Neste momento há nas terras de Miranda, Mogadouro e Figueira de Castelo Rodrigo orgulho pelo seu burro... e por aquilo que conheço do animal esse orgulho é plenamente justificado! Oxalá seja suficiente para impedir o seu desaparecimento...


Notas
  • Para mais informações consulte o site da AEPGA (Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino)
  • Uma visita à Hospedaria do Convento de Santa Maria de Aguiar, junto a Figueira de Castelo Rodrigo, permite conhecer alguns dos mais bonitos exemplares de burro do Parque Natural do Douro Internacional

09 novembro 2006

Serra do Courel (2): a Devesa da Rogueira

Pico Formigueiros e a Devesa da Rogueira
Trilho no interior da Devesa da Rogueira. A diversidade vegetal é verdadeiramente assombrosa

Na Serra do Courel, montanha localizada na região centro-oriental da Galiza, merece destaque um bosque em particular: a Devesa (nome local para floresta) da Rogueira.
Trata-se de uma das melhores manchas boscosas atlânticas galegas. Encontra-se na vertente Noroeste do Formigueiros (cume mais elevado do Courel, com 1639 metros de altitude), compreende cerca de 4 Km quadrados de superfície e distribui-se numa encosta de declive bastante acentuado, entre os 700 e os 1500 metros de altitude. Nas cotas mais baixas predominam o Carvalho (Quercus robur) e o Castanheiro (Castanea sativa) mas à medida que se sobe surge a Faia (Fagus sylvatica) que, ao contrário das florestas monoespecíficas por ela habitualmente formadas, aqui permite o desenvolvimento de outras espécies arbóreas formando um bosque de uma diversidade impressionante. Abundam os Teixos (Taxus baccata), Azevinhos (Ilex aquifolium), Vidoeiros (Betula pubescens), Freixos (Fraxinus angustifolia) e Aveleiras (Corylus avellana).
À diversidade da flora sucede-se a diversidade da fauna. Estão presentes mustelídeos como a Marta (Martes martes) ou o Toirão (Mustela putorius) e outros carnívoros como o Gato-montês (Felis silvestris) ou o Lobo-ibérico (Canis lupus signatus). Nos ribeiros de montanha encontram-se o Tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai) e a Rã-ibérica (Rana iberica), endemismos do Noroeste peninsular. É possível também observar aves raríssimas no contexto galego como a Felosa-musical (Phylloscopus trochilus) ou o Chapim-palustre (Parus palustris).
A melhor maneira de conhecer este pequeno paraíso é caminhando. Próximo à aldeia de Moreda encontra-se o edifício da Aula da Natureza, aberto aos fins-de-semana, que descreve através de painéis informativos o ecossistema da zona e distribui gratuitamente um mapa com vários trilhos pedestres. Para os mais aventureiros (e em boa forma física...) a melhor caminhada será talvez entre Moreda e a Lagoa Lucenza, atravessando todo o bosque numa dura subida com cerca de 1000 metros de desnível. Para os mais relaxados a ligação entre o Alto do Couto e A Campa constitui um trilho mais adequado, que não apresenta desníveis altitudinais importantes e percorre também belíssimas zonas da Devesa da Rogueira.

06 novembro 2006

Serra do Courel (1): a magia da natureza Galega

Bosque caducifólio, prados e as águas puras do Rego de Pontón: por toda a Serra do Courel sucedem-se exemplos de um bucolismo cada vez mais díficil de encontrar
A povoação de Vidallón, envolvida por um extenso souto de castanheiros, no limite Sul da Serra do Courel
Cascata e bosque rupícola na vertente Oriental do Courel

Na Galiza profunda encontra-se um enclave montanhoso de rara beleza: a Serra do Courel.
Abarcando uma área com mais de 20 000 hectares, esta serra, junto com os Ancares mais a Norte, contitui a terminação da vigorosa Cordilheira Cantábrica. É um território de declives acentuados, com as altitudes máximas no alto do Formigueiros (1639 metros) e Pia Páxaro (1610 metros), sulcado por abundantes ribeiros que drenam para o Rio Lor, um dos cursos fluviais mais bonitos e conservados do noroeste peninsular.
É neste território, fronteira entre o mundo eurosiberiano e mediterrâneo, que persistem até aos nossos dias as chamadas "devesas", bosques de uma diversidade fabulosa, orientados a Norte, onde sobrevivem as Faias (Fagus sylvatica) mais ocidentais da Europa.
Com 93 espécies de aves inventariadas, 40 de mamíferos e 14 de répteis o Courel constitui um dos santuários faunísticos galegos, local onde ainda persiste o Gato-bravo (Felis silvestris), a Marta (Martes martes) ou o Lobo-ibérico (Canis lupus signatus) e onde o Urso-pardo (Ursus arctos), oriundo da recuperada população cantábrica ocidental, é visita ocasional.
No próximo post falarei sobre a Devesa da Rogueira, o bosque mais preservado desta serra e um dos mais emblemáticos da Natureza Ibérica.