22 fevereiro 2006

A Marta no Alto Minho - V

Apesar de nesta fotografia a Marta (Martes martes) não se encontrar
defronte para a câmara mesmo assim é possível observar a
característica mancha peitoral amarela e atentar no pormenor
dos seus contornos, o que se revela fundamental
para a individualização deste animal.
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Metodologia e Resultados
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Ao longo dos 16 meses de trabalho de campo numa floresta das serras do Alto Minho foram colocadas 12 estações fotográficas, tendo sido registada a presença de Marta (Martes martes) em 9 delas.
As máquinas fotográficas activadas por movimento posicionadas mais a Norte e mais a Sul distavam entre si aproximadamente 4 km. As câmaras colocadas mais a Ocidente e mais a Oriente distavam por sua vez 2,5 km. A distância média entre estações fotográficas contíguas foi de 460 metros.
A área efectivamente estudada foi de cerca de 10 quilómetros quadrados. Neste território foi possível identificar um mínimo de 5 martas distintas.
Deve-se referir que os dados obtidos não são suficientes para a determinação das densidades médias destes mustelídeos uma vez que a totalidade da floresta não foi abrangida pelo esforço de campo. A título meramente indicativo pode-se contudo admitir densidades aproximadas de 5 martas por 10 quilómetros quadrados na zona central do bosque. Apesar da disparidade de ecossistemas e regiões climáticas estes dados correlacionam-se com os de Zalewski A. (in Ann. Zool. Fennici 32:131-144) que na floresta primitiva de Bialowieza na Polónia, em estudo por radiotracking com 6 martas marcadas, obteve uma densidade média de 5,43 martas por 10 quilómetros quadrados.
É importante realçar contudo que as densidades médias de martas podem ser muito diferentes consoante a área estudada (de 1 até 12 martas por 10 quilómetros quadrados; in Collins Field Guide - Mammals of Britain and Europe). Talvez por isso a melhor medida para determinar o grau de ameaça sobre esta população seja a presença da Fuinha (Martes foina). Em florestas maduras com populações estáveis de marta a fuinha tem uma densidade vestigial, ocorrendo principalmente próximo a áreas habitadas; nesta floresta do Alto Minho, e apesar das condições ecológicas favoráveis, a presença da fuinha é ainda importante, com um ratio aproximado de 1:3 (favorável à marta).
Torna-se imperativo um estudo a médio/longo prazo da evolução das populações destes mustelídeos para conhecer a real tendência dos seus efectivos.

16 fevereiro 2006

A Marta no Alto Minho - IV


No dia 14 de Março de 2004 esta Marta (Martes martes)
foi fotografada por 2 vezes em plena luz do dia

Actividade diurna da Marta (Martes martes)
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Apesar de essencialmente nocturna a marta pode também apresentar actividade diurna (ver gráfico em anexo). Na floresta do Alto Minho alvo deste estudo, as estações fotográficas documentaram os movimentos de 2 martas em 2 áreas distintas sob a luz do dia.
Estas fotografias foram obtidas principalmente durante os meses de Março e Abril, ou seja no início da Primavera. Este é um período particularmente importante no ciclo biológico da marta, visto que é a altura do nascimento das crias. Intensifica-se a busca de alimento por parte das fêmeas podendo ser esta a explicação mais provável para os movimentos diurnos da espécie.
Apesar da raridade destas fotos, deve-se realçar o facto de aparentemente o aumento da luminiosidade não tornar as martas mais fugidias. Com efeito, estes mustelídeos podem manter-se junto das câmaras fotográficas durante mais de 1 minuto, ou seja, um procedimento em tudo semelhante ao que habitualmente ocorre ao abrigo da noite.

09 fevereiro 2006

A Marta no Alto Minho - III


Marta (Martes martes) fotografada às 5h e 9 minutos
de 1 de Abril de 2003
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Fuinha (Martes foina) fotografada às 0h e 35 minutos
da noite seguinte, precisamente no mesmo local

Interacção Marta (Martes martes)/Fuinha (Martes foina)

A floresta do Alto Minho onde se realizou este trabalho de campo é talvez o melhor representante de bosque caducifólio maduro existente em Portugal continental. Além disso a povoação mais próxima encontra-se a pelo menos 5 quilómetros de distância. Neste habitat tão pouco humanizado seria de esperar uma ocupação do território quase total por parte da marta e simultaneamente a ausência da fuinha, que tradicionalmente prefere meios mais humanizados.
O que se constata contudo é que, apesar da predominância da marta, a fuinha ocorre em números não negligenciáveis (ver gráfico em anexo). Tal deve-se provavelmente ao facto de nos encontrarmos no limite Sul de distribuição da marta a nível europeu. Seria bastante interessante prolongar no tempo a realização deste trabalho com vista a compreender a evolução das populações dos dois mustelídeos.
O bosque estudado é atravessado por 6 linhas de água, verificando-se nesses pequenos vales diferenças marcadas na ocupação do território. Assim, após vários semanas de prospecção, verificou-se uma presença quase absoluta da marta em 4 desses vales (onde a fuinha estava ausente) enquanto que num outro vale apenas se identificou a presença da fuinha (com a ausência completa da marta) e num último vale os dois mustelídeos coexistiam (ver fotos em anexo).
Conclui-se portanto que, pelo menos em termos territoriais, no Norte de Portugal, a marta e a fuinha são verdadeiros competidores.

01 fevereiro 2006

A Marta no Alto Minho - II

Apesar da chuva intensa que se fazia sentir na noite de
11 de Fevereiro de 2003, esta Marta (Martes martes) manteve-se
activa como comprova a foto.
[Atente-se na mancha peitoral amarela característica da marta]

3 Km mais a Norte a Fuinha (Martes foina) é senhora absoluta
de um pequeno vale, não se constatando a presença de marta.
[Atente-se na mancha peitoral branca característica da fuinha]
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Ao longo dos 16 meses de trabalho de campo foram utilizadas várias câmaras fotográficas activadas por um sensor de movimento e calor com o objectivo de registar a presença e padrões de actividade da marta.
Os dados absolutos obtidos foram os seguintes:
  • Nº total de dias de trabalho de campo: 516
  • Nº de câmaras utilizadas: entre 2 e 4
  • Nº de dias de funcionamento das câmaras: 497
  • Nº de dias em que foi registada actividade de fauna: 159
  • Nº de espécies de mamíferos fotografados: 9
  • Nº de fotos de marta: 114
  • Nº de fotos de fuinha: 34
  • Nº fotos nocturnas de mamíferos: 266
  • Nº fotos diurnas de mamíferos: 29
  • Nº de deslocações à área de estudo: 36
  • Nº de quilómetros percorridos a pé no decorrer do trabalho: 176