29 dezembro 2005

Reunião de família


O Natal é a altura em que tradicionalmente a família se reúne. Tal facto também é válido para os animais da nossa fauna, senão como se explicaria esta foto em que 3 (!) Corços (Capreolus capreolus) passeiam juntos em pleno dia por um carvalhal das montanhas do Sul da Galiza?
A todos os leitores os meus votos de um 2006 cheio de saúde e de sonhos concretizados!

27 dezembro 2005

Abrigos de pastores


Dispersos pelas mais agrestes serras do Norte de Portugal e da Galiza existem pequenos abrigos de pastores, por vezes em locais de difícil acesso.
Construídos à base de pesados blocos graníticos muitos deles mantêm-se intactos até aos nossos dias, testemunho da relação íntima do Homem com a Natureza.
A sua simplicidade e silhueta elegante são um exemplo perfeito de integração harmoniosa na paisagem. E ainda hoje num dia de chuva constituem o melhor dos abrigos para o caminhante desprevenido...

22 dezembro 2005

A Marta - todo um mito em Portugal


É um dos animais mais bonitos e ágeis da fauna do Paleárctico.
Com uma distribuição restrita aos grandes bosques maduros de frondosas ou de pinheiros-silvestres (Pinus sylvestris), a Marta (Martes martes) apenas pode ser encontrada nas montanhas mais belas do Hemisfério Norte.
O pelo denso e sedoso, o corpo projectado para vertiginosas perseguições a esquilos, a bela mancha amarela, o olhar vivo, as orelhas pequenas, as extremidades felpudas, tudo neste mamífero traduz elegância e beleza.
Uma vez que em Portugal escasseiam as grandes montanhas ou os velhos carvalhais em óptimo estado de conservação, duvida-se da existência da Marta.
Será que apesar de todo o desprezo que os portugueses sempre demonstraram pela Natureza existirá ainda no nosso país o derradeiro símbolo das florestas intactas?
Eis a pergunta a que este blog tentará responder num futuro próximo...
A todos os leitores os meus sinceros votos de Feliz Natal!

12 dezembro 2005

Picanço-de-dorso-ruivo: o livro


Foi editado recentemente um livro sobre o Picanço-de-dorso-ruivo (Lanius collurio) da autoria de Luís Reino, pertencente à colecção Património Natural Transmontano.
Na verdade trata-se DO livro sobre esta espécie, uma vez que ao longo de 100 páginas o autor oferece-nos a informação mais detalhada e completa alguma vez editada em Portugal relativa a este pequeno predador.
Algumas passagens da obra são particularmente interessantes, como a constatação de que o declínio das populações de picanços na Europa Ocidental se iniciou a 1 de Janeiro de 1950 com a aprovação da Política Agrícola Comum (PAC). Também se encontram descritos os principais tipos de habitat da espécie em Portugal, percursos através de paisagens de grande beleza onde é possível a sua observação e medidas concretas de conservação.
Este título pode ser adquirido através do portal Naturlink (endereço no canto superior direito desta página).
Definitivamente é um livro a não perder para todos os amantes das aves e da Natureza em geral.

06 dezembro 2005

O regresso da neve


Chegou o tempo da neve, dos dias curtos, do frio intenso...
A actividade da fauna que povoa os nossos bosques diminui enormemente. O Urso-pardo cantábrico (Ursus arctos) hiberna, os Esquilos (Sciurus vulgaris) passam por longos períodos de letargia, os cervídeos reduzem ao mínimo indispensável as suas deambulações em busca de alimento. O objectivo é apenas um: poupar energia para sobreviver!
Os juvenis da maioria das espécies enfrentam agora o grande desafio das suas (ainda) curtas vidas. Em anos de abundantes nevões, como aconteceu no último Inverno nas montanhas do Norte ibérico, a mortalidade aumenta exponencialmente.
São tempos belos mas simultaneamente impiedosos, em que a calma é apenas aparente...

30 novembro 2005

Visitar Muniellos


Muniellos, Reserva da Biosfera da Unesco, um dos maiores carvalhais da Europa, assume a forma de um semi-circulo, dominado pelo Pico Candanosa com 1676 metros de altitude. A única abertura na sucessão de encostas íngremes recobertas de floresta é o desfiladeiro de Tablizas, por onde corre o rio Muniellos.
Mais de três quartos da área da reserva é constituída por bosques maduros, enquanto que os prados e zonas de cultivo estão reduzidos a 3% da superfície. Aqui existem mais de 200 espécies de fungos, 60 tipos de líquenes, 30 tipos de musgos e 400 espécies de plantas vasculares. A árvore mais difundida é o carvalho Quercus petrae, acompanhado pelo Carvalho-alvarinho (Quercus robur), Bétula (Betula pubescens) e Faia (Fago Sylvaticae).
Em termos faunísticos Muniellos alberga mais de 160 espécies de vertebrados, destacando-se pela sua raridade o Urso-pardo (Ursus arctos), o Galo-montês (Tetrao urogallus) e o Pica-pau-mediano (Dendrocopos medius). Merece especial menção o grupo dos morcegos: existem 15 espécies, algumas tão raras como o Morcego-grande-de-ferradura (Rhinolophus ferrum equinum) - ameaçado por toda a Europa - ou o Morcego da montanha (Hypsugo savii).
Desde Portugal a melhor forma de chegar a este autêntico paraíso é seguir pela auto-estrada A3 até à fronteira de Valença. Já em Espanha continua-se pela A55 até à Porriño onde se toma a A52. Em Ourense abandonamos a auto-estrada e percorremos os próximos quilómetros na estrada nacional 120, de forma a alcançar Ponferrada. Uma vez aqui, seguimos pela via local 631 até Villablino, onde desviamos à esquerda pela 626, mais tarde denominada AS-15. Na aldeia de Ventanueva seguimos novamente pela esquerda alcançando rapidamente Tablizas, porta de entrada do Monte de Muniellos. São cerca de 480 km e cinco horas de viagem, mas a recompensa é enorme...
O bosque pode ser percorrido através de um trilho com mais de 18 km de extensão, que leva o viajante até às belíssimas lagoas. O desnível é de cerca de 700 metros e são necessárias 6 horas de caminhada, mas a atmosfera em que avançamos é um deleite para os sentidos.
Para terminar refira-se que o acesso à Reserva Biológica Integral de Muniellos está restringido a 20 pessoas por dia e que cada visitante apenas pode percorrer estas montanhas uma vez por ano. É necessário marcar antecipadamente a visita, o que pode ser feito pelo telefone (0034)985963060.
De que é que está à espera para conhecer a realização mais sublime da Natureza Ibérica?

21 novembro 2005

Muniellos - o grande Bosque Ibérico


Quando a 9 de Novembro de 2000 o Bosque de Muniellos foi declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO tinha chegado ao fim, com amplo sucesso, uma longa cruzada para defender um dos últimos grandes bosques maduros da Europa.
Localizado no extremo sudoeste do Principado das Astúrias, Muniellos é, desde há muito, um local especial. Constitui uma representação quase virginal das comunidades vegetais e animais da Cordilheira Cantábrica. O seu relevo abrupto, a elevada pluviosidade anual e as vias de comunicação deficientes conseguiram travar a actividade florestal que, em alguns momentos, ameaçou este bosque de mais de 5500 hectares de extensão.
Conforme nos diz Victor Vázquez, antigo director-geral dos recursos naturais do Principado, Muniellos é um marco simbólico para a protecção dos espaços naturais não só das Astúrias mas também de toda a Espanha. Quando surgiram projectos de intervenção que ameaçavam as características naturais deste território, o alerta de várias personalidades científicas e associações conservacionistas possibilitou em 1970 o fim da exploração madeireira e em 1982 a declaração como Reserva Biológica Nacional.
Muniellos representa para os asturianos o último reduto das frondosas florestas de carvalho que outrora cobriram a totalidade da região, proporcionando abrigo e alimento aos seus povoadores. Hoje, pelas suas características, constitui um laboratório extraordinário para a investigação dos recursos naturais.
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(No próximo post - o relevo, a flora, a fauna, como chegar e como visitar Muniellos)

15 novembro 2005

Venda de peles de Raposa no Parque Nacional


Quem num destes domingos visite o Parque Nacional da Peneda-Gerês verá num dos seus locais mais emblemáticos, a Portela do Homem, uma inesperada exposição de peles de animais!
Um vendedor ambulante utiliza o edifício do antigo posto fronteiriço para pendurar variadas peles de animais, incluindo pelagens completas de Raposa (como documenta a foto), precisamente no local ambientalmente mais protegido do país e onde a caça é proibida.
Avisadas as autoridades competentes o individuo abandonou o local, para logo regressar no fim-de-semana seguinte...
Até quando terão os visitantes do Parque Nacional de se indignar com tão triste espectáculo?

07 novembro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - Conclusão


Embora se trate duma das mais belas florestas portuguesas, com uma pirâmide ecológica bastante completa, a sua sobrevivência encontra-se ameaçada pelos factores abaixo referidos. A sua existência actual é por si só um pequeno milagre!
Com este trabalho pretende-se chamar a atenção para a riqueza natural das Serras do Noroeste Peninsular e para a necessidade urgente de as valorizar e preservar.
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Nota final
A realização deste trabalho não teria sido possível sem a imprescindível contribuição de Paulo Santos, que contribuiu com grande parte das fotografias que ilustram o texto. Foi a sua motivação contagiante que me levou a escrever esta monografia. A todos recomendo a leitura do seu blog "Montanhas Ibéricas" (link no canto superior direito desta página).

31 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - 5ª parte


Esta floresta apesar de incluída entre as áreas protegidas do território português, enfrenta sérios problemas de conservação:

  1. Os incêndios florestais, originados principalmente por queimadas de pastores, são uma constante durante todo o ano. Não deixa de ser elucidativo o facto de que com um comprimento máximo de 3 km, esta seja uma das maiores florestas do concelho de Arcos de Valdevez.
  2. A caça causa grande pressão sobre a fauna, sendo frequente a passagem de caçadores com os seus cães pelo interior da floresta.
    A vigilância por parte das autoridades competentes é praticamente inexistente. Durante os vários meses de trabalho de campo nunca os autores encontraram qualquer agente de autoridade.
  3. O sobrepastoreio (principalmente bovino) é uma realidade das serras da Peneda e do Soajo. Embora a pastorícia seja uma actividade secular e possa beneficiar determinadas espécies, como o lobo, quando em excesso reduz o sub-bosque da floresta, impede a sua regeneração e contribui decisivamente para o empobrecimento da flora.
  4. Os cães assilvestrados constituem um dos graves problemas da área de estudo pela predação que podem exercer sobre as presas silvestres e o gado doméstico (com os danos a serem injustamente imputados ao lobo), podendo inclusive atacar o Homem.
  5. A existência de 2 parques de campismo praticamente contíguos, pode originar perturbações importantes, principalmente durante a época de reprodução e nascimento de várias espécies de mamíferos e aves (Primavera e Verão).

26 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - 4ª parte




A comunidade de predadores da mata inclui um número importante de cães provenientes das aldeias vizinhas ou abandonados pelos seus donos, como se pode observar no gráfico 3.
Entre os carnívoros de pequeno e médio porte contam-se a fuinha, a gineta e a raposa. A primeira habita o extremo ocidental da floresta, mais humanizado, enquanto a segunda prefere as zonas a oriente, mais tranquilas. Já a raposa tem uma distribuição ubíqua.
No topo da pirâmide ecológica encontra-se o Lobo, que patrulha os principais trilhos das serras da Peneda e do Soajo.

17 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - 3ª parte




Obtiveram-se 42 fotos de mamíferos assim como várias fotos de passeriformes. Em média foi conseguida 1 foto por cada 5,5 dias de amostragem.
Como se pode ver no gráfico 1 foram fotografados lobo, raposa, gineta, fuinha, corço, javali, rato-do-bosque, cães assilvestrados e gado bovino. Os mamíferos mais fotografados foram a raposa, a fuinha, o corço e o javali.
Refira-se que a gineta e a fuinha têm territórios bem delimitados, praticamente não existindo sobreposição entre as duas espécies, enquanto que, por exemplo, a raposa pode ser encontrada por toda a floresta.
A área de estudo goza ainda de alguma tranquilidade motivo pelo qual foi possível documentar a actividade diurna de alguns mamíferos, como se observa no gráfico 2.

10 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez – 2ª parte


Entre Novembro de 2004 e Fevereiro de 2005, foram percorridos os principais trilhos de uma mata pertencente ao concelho dos Arcos de Valdevez, perfazendo um total de mais de 80 km, e colocaram-se câmaras fotográficas activadas por sensor de movimento. O objectivo era o de recolher o máximo de informação possível sobre os animais que frequentam a floresta, a sua distribuição e hábitos.
Nos trilhos mais importantes encontraram-se dejectos de Lobo (Canis lupus), Raposa (Vulpes vulpes), Corço (Capreolus capreolus), Javali (Sus scrofa) e Gineta (Genetta genetta). O único mamífero directamente observado foi o Esquilo (Sciurus vulgaris), do qual se podem encontrar indícios de presença por toda a floresta.
Foram avistados ou escutados várias espécies de aves como a Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo), Gavião (Accipiter nisus), Gaio-comum (Garrulus glandarius), Pica-pau-malhado-grande (Dendrocopus major), Pica-pau verde (Picus viridis), Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), Chapim-azul (Parus caeruleus), Chapim-real (Parus major), Chapim-rabilongo (Aegithalos caudaus), Chapim-de-poupa (Parus Cristatus), Tentilhão (Fringilla coelebs), Verdilhão (Carduelis chloris).
As câmaras fotográficas activadas por sensor de movimento foram colocadas entre 7 de Novembro de 2004 e 26 de Fevereiro de 2005. O número de câmaras em campo variou entre 2 e 4. Estiveram activas por um total de 232 dias, cobrindo diferentes biótopos florestais, a diferentes altitudes. Durante este período de tempo as condições meteorológicas caracterizaram-se por tempo frio e seco com temperaturas médias próximas dos 5º C.

04 outubro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - 1ª parte


Nos contrafortes da Serra do Soajo, por entre uma paisagem devastada por queimadas sucessivas, subsiste até aos dias de hoje uma importante mata de frondosas e coníferas. Trata-se duma floresta plantada pelos Serviços Florestais, composta por árvores com algumas dezenas de anos, e que assume um importante papel como refúgio para a fauna do alto Minho.
A mata estende-se entre os 550 e os 1200 metros de altitude e compreende uma área de 6 Km quadrados. Nas altitudes mais baixas existem várias estruturas importantes como 2 parques de campismo, um centro hípico e uma estrada Nacional; o ponto mais elevado alcança os 1216 m de altitude e é uma zona isolada de difícil acesso; a ocidente está limitada por um curso fluvial; a oriente o limite é menos definido devido aos variados incêndios que anos após ano lhe reduzem a dimensão.
O coberto vegetal é variado, composto por manchas de Pinheiros-silvestres (Pinus sylvestris), Ciprestes (Chamaecyparis lawsoniana), Castanheiros (Castanea Sativa), Faias (Fagus sylvatica), Carvalhos (Quercus robur) e Bétulas (Bétula pubescens). Dispersos pelas manchas de caducifólias encontram-se alguns exemplares de azevinho (Ilex aquifolium). Destaca-se na floresta uma importante diversidade de fungos pois encontramo-nos na zona mais chuvosa do país, com cerca de 3000 mm de precipitação média anual.

29 setembro 2005

Os segredos de uma floresta dos Arcos de Valdevez - Introdução


O blog Fauna Ibérica irá dedicar-se nas próximas semanas à caracterização de uma das maiores manchas florestais do concelho dos Arcos de Valdevez.
Esta região compreende ainda extensas zonas de alta montanha relativamente livres da pressão humana e por isso representa um refúgio para a fauna portuguesa mais ameaçada.
Durante meses percorremos dezenas de quilómetros por trilhos de montanha, observamos pegadas e dejectos, colocamos câmaras fotográficas activadas por sensor de movimento em locais recônditos.
O resultado será apresentado durante o próximo mês neste blog, com o objectivo de dar a conhecer a todos os interessados os animais fantásticos que povoam ainda os montes do alto Minho.
A primeira parte será editada na próxima terça-feira, 4 de Outubro... Espero que apreciem e que no fim todos estejamos mais cientes da grande riqueza ambiental que o nosso país ainda possui.

20 setembro 2005

Mito rural: a solta de lobos


Tal como os famosos mitos urbanos assiste-se hoje no mundo rural português ao surgimento de um novo mito, transversal a diferentes gerações e classes sociais: a solta de lobos (Canis lupus)...

É palavra comum nas aldeias do Norte de Portugal, que o Estado, organizações conservacionistas ou particulares procedem à libertação de lobos-ibéricos (Canis lupus signatus).

O contorno do “acontecimento” é sempre o mesmo:

  1. A solta nunca foi presenciada por aquele que conta a história mas a fonte é de "confiança".
  2. Dos meios utilizados consta habitualmente uma carrinha branca que ao cair da noite percorre as serras libertando os animais…
  3. Existem então “novos lobos”, de porte e pelagem diferentes dos lobos tradicionais e que não fogem quando encontram o Homem (como sempre aconteceu em milénios de coexistência Homem/Lobo).

De tão repetido este folclore assume contornos de axioma e quem o tente desmontar encontra invariavelmente o antagonismo, a desconfiança e até a agressividade.

Realmente é irónico que num país em que o Estado não apresenta qualquer projecto de reintrodução da fauna mais ameaçada, a ignorância leve a que o povo acredite que as instituições de conservação da natureza funcionem bastante melhor do que aquilo que na verdade acontece…

09 setembro 2005

Depósitos de lixo nas nossas montanhas


Eis uma imagem frequente das nossas serras... mas que também acontece em Espanha (a foto foi obtida nas montanhas leonesas).
É inadmissível que em países pertencentes à União Europeia, que possuem estações de tratamento de resíduos urbanos amplamente distribuídas e publicitadas, ainda existam pessoas que desrespeitem as mais elementares normas de civismo e depositem o lixo ao ar livre, no caso concreto num local ecologicamente sensível.
Faltará lá, como cá, a fiscalização apertada e a punição adequada...

04 setembro 2005

Actividade diurna dos mamíferos


A grande maioria dos mamíferos da nossa fauna apresenta hábitos nocturnos, principalmente devido à perseguição humana.
Contudo em locais tranquilos e com boa cobertura vegetal, mesmo os ungulados mais esquivos estão activos quando o Sol já vai alto.
É o caso deste corço (Capreolus capreolus) fotografado às primeiras horas da manhã numa floresta mista de carvalhos e pinheiros-silvestres num vale remoto do Nordeste Transmontano.

28 agosto 2005

A importância dos matagais



Nestes dias de incêndios devastadores, a atenção da comunicação social recai sobre a extensão das manchas florestais ardidas e os meios de combate ao fogo mobilizados. Poucas vezes se fala do tipo de floresta consumido pelas chamas e despreza-se a destruição das formações arbustivas, vulgarmente designadas por "matos".

Contudo, entre os vários matagais que povoam as nossas serras, existem algumas formações que assumem grande importância para a fauna. Merece particular destaque a uva-do-monte (Vaccinium myrtillus), retratada na foto acima, que por estas alturas se torna um importante recurso trófico nas serras do Norte peninsular.

A destruição do "mato" pelo fogo, é muitas vezes também uma tragédia para o nosso meio natural...

24 agosto 2005

Sinais de esperança



Em matéria de incêndios florestais o nosso país atravessa uma vez mais um momento trágico, com mais de 150 mil hectares devastados pelas chamas este ano.
Apesar de a maior parte da área florestal ardida corresponder a culturas monoespecíficas de pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e eucalipto (Eucalyptus), portanto longe do coberto vegetal original e com uma baixa biodiversidade, os números impressionam pela sua dimensão.
Em Espanha, onde existe uma verdadeira floresta à base de árvores autóctones, os incêndios são também fonte de preocupação, com 107 mil hectares ardidos. Mas, ao contrário do que se passa por cá, a esperança renasce quando, caminhando em áreas esquecidas do interior montanhoso de Castela e Leão, se encontra um ambicioso projecto de reflorestação à base de carvalhos (Quercus petraea e Quercus pyrenaica)!
A Natureza agradece... Fica o exemplo!

15 agosto 2005

Os ventos da discórdia


Nos próximos anos a instalação de parques eólicos em Portugal vai decorrer a grande ritmo conforme anunciado recentemente pelo Governo, o que globalmente é positivo.
É importante contudo salientar que para além das vantagens por demais conhecidas (fonte renovável de energia, pouco poluente, etc.) existem consequências nefastas importantes:
  1. Impacto visual. A paisagem representa um valor por si própria, um investimento a longo prazo na imagem do país. As serras mais interessantes a nível geológico, florestal e de maior harmonia paisagística (alcançada através do paciente trabalho de séculos das populações locais) deveriam ser poupadas.
  2. Impacto sobre a fauna. Para serem construídos parques eólicos é necessário abrir autênticas auto-estradas de terra batida em zonas ecologicamente sensíveis, para a instalação dos enormes aerogeradores. Uma vez concluída a obra estas estradas permanecem, tornando acessível o que antes era remoto, facilitando a caça furtiva e a perturbação sobre os últimos lobos ou águias-reais.

É preciso urgentemente ordenar a instalação de aerogeradores no país. Há zonas que pelos motivos acima expostos simplesmente não podem comportar parques eólicos!

07 agosto 2005

Sinais da presença de Lobo



Os últimos lobos (Canis lupus) do território português enfrentam hoje novas e graves ameaças.
Devido à calamitosa situação financeira do Instituto da Conservação da Natureza (ICN), os prejuízos pelos ataques de lobo não têm sido pagos aos criadores de gado. Cresce a indignação entre estes e teme-se por um aumento da perseguição da espécie.
Simultaneamente proliferam os parques eólicos em áreas de criação das alcateias, enquanto que os fogos dizimam as áreas de refúgio e de alimentação das suas principais presas selvagens.
É por isso quase um milagre que, como demonstram as fotos, ainda se possam observar sinais da presença do lobo nas serras do Norte do país. Mas até quando?

03 agosto 2005

Ocaso da Águia-real na Peneda-Gerês


Eis o último exemplar de Águia-real do nosso único Parque Nacional!
Desde que foi criado, há mais de 30 anos, o Parque Nacional da Peneda-Gerês viu o número de exemplares de Águia-real diminuir acentuadamente.
Actualmente a situação é bastante grave, não se vislumbrando outra alternativa para o futuro desta majestosa ave, que não passe por um ambicioso projecto de recuperação/reintrodução.
Em todo o Portugal este é o local que goza de um maior grau de protecção ambiental e onde a conservação da natureza assume a maior importância. Se não conseguirmos salvar um dos símbolos do Parque Nacional, ou pelo menos tentarmos, então conservar a natureza em Portugal será uma expressão desprovida de sentido.

31 julho 2005

Cordilheira Cantábrica



A três centenas de quilómetros do Norte de Portugal existem montanhas de uma beleza extraordinária com bosques caducifólios de quilómetros de extensão, onde habitam Ursos-pardos, Martas, Galos monteses e Pica-paus negros.
Estou a falar da Cordilheira Cantábrica, maciço montanhoso que se estende desde a Galiza, passando pelas Astúrias e Castilha e Leão até à Cantábrica.
São vários os parques e reservas naturais existentes, dos quais destaco o Parque Nacional dos Picos de Europa, o Parque Natural de Redes, o Parque Natural de Somiedo e a Reserva Natural Integral de Muniellos. De referir que os três últimos foram reconhecidos pela UNESCO como Reserva da Biosfera.
E o paraíso aqui tão perto...

28 julho 2005

O Javali


O Javali (Sus scrofa) é um dos ungulados mais representativos da nossa fauna.
A sua distribuição em Portugal é ampla, desde as montanhas do Norte às planícies do Alentejo.
Apesar de perseguido pelo Homem, principalmente devido aos estragos que por vezes causa aos campos agrícolas, a sua capacidade de adaptação e o seu amplo regime alimentar permite-lhe prosperar mesmo em zonas aparentemente desfavoráveis, com um coberto vegetal pobre.
Este javali foi fotografado nas serras do Noroeste português pelo que, para além do Homem, tem que se preocupar com um outro inimigo ancestral, que mantêm bem viva a sua presença: o Lobo (Canis lupus)...

20 julho 2005

Corços




O Corço (Capreolus capreolus) é um dos animais mais elegantes e discretos de entre os mamíferos portugueses.
Ocorre fundamentalmente a Norte do Rio Douro, onde nunca alcança grandes densidades devido provavelmente à fragmentação do habitat e à caça furtiva.
As fotos, efectuadas por uma câmara activada por um sensor de movimento, confirmam que por esta altura (época do acasalamento) macho e fêmea frequentam o mesmo território.

Os carvalhais de Montalegre



Em Montalegre é frequente encontrarem-se mosaicos de paisagem, em que os carvalhais de carvalho-negral alternam com os sempre verdes prados de lima.
Neste biótopo a variedade de fauna é notável, contudo a sua observação nem sempre é fácil devido aos hábitos crepusculares da maioria dos animais.
Coloquei camâras fotográficas activadas por sensor de movimento para tentar determinar que mamíferos habitam estes bosquetes caducifólios .

Fauna Ibérica



Este é o Blog sobre a Natureza do Norte da Península Ibérica. Aqui apresentarei alguns dos lugares naturais de eleição desta zona da Península, assim como os seus habitantes selvagens. Em especial falarei do meu trabalho com camaras fotográficas automáticas, que permitem conhecer melhor os mamíferos que habitam um determinado habitat.
Este é também um espaço de denúncia sobre o que vai mal (e é muito...) na conservação da Natureza em Portugal.
Espero contar com a vossa colaboração e comentários. A participação de todos é o objectivo último deste Blog.