19 setembro 2006

A Brama do Veado


Nesta altura do ano nas Serras do Nordeste Transmontano, no Parque Natural do Tejo Internacional ou no Alentejo raiano desenrola-se um dos espectáculos naturais mais fascinantes da Fauna Ibérica: a Brama do Veado (Cervus elaphus).
Percorrendo os cumes isolados das Serras do Montesinho ou da Coroa é possível ouvir, a qualquer hora do dia ou da noite, longos e potentes bramidos emitidos pelos machos de veado, que assim procuram dominar as melhores áreas, as que apresentam o maior número de fêmeas, e intimidar os possíveis concorrentes. Por vezes a vocalização, o tamanho corporal e a ostentação das hastes não são suficientes para desmotivarem os machos concorrentes e nessa altura o confronto é inevitável. O choque das hastes e a tentativa de empurrar o adversário para fora do território, apesar da sua espectacularidade, habitualmente não provocam lesões graves. O vencedor da contenda tem ainda um longo trabalho pela frente: terá que defender o território recém-conquistado durante vários dias até que seja aceite pelo grupo de fêmeas e estas se encontrem receptivas à cópula.
O macho acima retratado, fotografado a 15 de Setembro por uma câmara activada por um sensor de movimento, dirigia-se para um conhecido local de alimentação de um numeroso grupo de fêmeas. Nessa zona esperava-o outro macho que desde há algumas semanas dominava o local. Com pesar informo os leitores do blogue Fauna Ibérica que o nosso exemplar perdeu a batalha... por enquanto!

14 setembro 2006

Vale do Águeda: o desfiladeiro mais selvagem (2)

Grifo (Gyps fulvus) em vôo tipo "soaring" sobre a
encosta direita do Vale do Águeda

Painel de azulejo em Almofala, a aldeia dos abutres e das águias

O vale do Rio Águeda é uma das regiões mais importantes da Península Ibérica no que respeita à avifauna. Neste canhão remoto nidificam o Abutre-do-egipto (Neophron percnopterus), símbolo do Parque Natural do Douro Internacional, o Grifo (Gyps fulvus), que aqui possui uma das maiores colónias de nidificação no nosso país, a Águia-real (Aquila chrysaetos), que no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo apresenta uma das maiores densidades populacionais da Europa Ocidental, e também as raras Águia-perdigueira (Hieraetus fasciatus) e Cegonha-negra (Ciconia nigra).
Desde a aldeia de Almofala parte um cómodo trilho pedestre de cerca de 3 quilómetros de extensão que termina na Igreja de Santo André, miradouro privilegiado sobre as arribas do Águeda, onde, com os indispensáveis binóculos e guia de aves e uma dose razoável de paciência, se podem observar todas as espécies acima descritas.
Fica a certeza de nesse local, independentemente dos avistamentos efectuados, desfilar perante nós o melhor de um Portugal Natural, há muito perdido em grande parte do restante território...

09 setembro 2006

Vale do Águeda: o desfiladeiro mais selvagem (1)



Em plena Beira Alta, ao longo da fronteira com Espanha, junto às aldeias de Almofala, Mata de Lobos e Escalhão encontra-se uma das mais belas paisagens naturais da Península Ibérica: o desfiladeiro do Rio Águeda.
Integrado no Parque Natural do Douro Internacional desde 1998, o vale do Águeda discorre em sentido Sudeste-Noroeste, partilhado pelo Concelho de Figueira de Castelo Rodrigo e pela província castelhana de Salamanca. O curso das águas cavou ao longo de milénios uma profunda garganta sobre o planalto granítico, determinando a configuração da paisagem actual de grande beleza em que por entre fragas de dezenas de metros de altura podemos encontrar bosques densos de Azinheira (Quercus rotundifolia) e Zimbro (Juniperus communis) ou arbustos e pequenas árvores como o Zambujeiro (Olea europaea), Sanguinho (Frangula alnus) ou a Cornalheira (Pistacia terebinthus).
A acompanhar um ecossistema bastante preservado surge uma grande riqueza faunística, principalmente ao nível da avifauna, de que falarei no próximo post...

04 setembro 2006

Melro-das-rochas: um visitante ameaçado


O Melro-das-rochas (Monticola saxatilis) é, de entre as várias espécies de melros existentes em Portugal, uma das mais atraentes. Visita-nos a cada Primavera e Verão, vindo da África Tropical, mas fá-lo em cada vez menor número, encontrando-se actualmente classificado como Em Perigo de Extinção segundo o recém-publicado Livro Vermelho dos Vertebrados (ICN, 2006).
No nosso país esta bonita ave prefere as paisagens serranas do Parque Nacional da Peneda-Gerês e Parque Natural da Serra da Estrela, frequentando as áreas rochosas com pastos ou matos rasteiros entre os 1000 e os 2000 metros de altitude.
Na Península Ibérica pouco se sabe sobre as causas do declínio da espécie (em Portugal existirão menos de 2500 exemplares e em Espanha menos de 10 000 indivíduos maturos), o que dificulta a implementação de estratégias de conservação. É por isso um privilégio cada vez mais raro avistar um macho de melro-das-rochas, com a sua espectacular plumagem vermelha e azulada, numa caminhada pelos blocos graníticos da Serra do Laboreiro ou pelos cumes nevados do Parque Nacional de Ordesa y Monte Perdido, onde a foto foi obtida.