29 dezembro 2010

Seguimento de duas alcateias durante o ano 2009 (5)

Lobo da Alcateia de Bragança Norte fotografado a meio do dia.


Mamíferos detectados no ano 2009 no território da

Alcateia de Bragança Norte

Espécies

Fotografias

Razão de fotografias

Tendência populacional

Raposa (Vulpes vulpes)

472

52%

Javali (Sus scrofa)

139

15%

Corço (Capreolus capreolus)

14

2%

-

Veado (Cervus elaphus)

95

11%

Gato-bravo (Felis silvestris)

7

1%

-

Texugo (Meles meles)

25

3%

Marta (Martes martes)

25

3%

Fuinha (Martes foina)

2

0%

Lebre-ibérica (Lepus granatensis)

19

2%

Rato-campo (Apodemus sylvaticus)

28

3%

-

Total

900

Tendência populacional de alguns dos mamíferos que compartem o território com a Alcateia de Bragança Norte.


(conclusão)


Discussão

O seguimento ao longo de vários anos de alcateias do Distrito de Bragança permite a aquisição de conhecimentos aprofundados sobre os grupos familiares, a evolução populacional das restantes espécies com as quais compartem o território e os factores de ameaça para a sua conservação.

O ano 2009 foi favorável ao lobo no extremo Nordeste da sua área de distribuição em Portugal. Não só não se verificaram alterações substanciais no território (ausência de incêndios ou de construção de grandes infra-estruturas), como registou-se um aumento das principais presas alvo (nomeadamente o javali e o veado). Desta forma as 2 alcateias estudadas reproduziram-se com sucesso, a apenas 5 km de distância, o que traduz bem a densidade do lobo nesta área.

A tranquilidade da zona de estudo confirma-se igualmente pela actividade frequentemente diurna de ambos os grupos familiares (mais de 40% dos registos de lobo obtidos).

No final de 2009 contabilizavam-se 2 crias de ano em cada uma das alcateias. Este número relativamente baixo talvez possa ser explicado por uma população lupina próximo da capacidade de saturação do meio, visto que não foram identificados factores de ameaça directos significativos.

O facto de duas alcateias contíguas não terem respondido a uivos simulados em 10 ocasiões distintas e próximo ao local confirmado de reprodução coloca em causa a fiabilidade deste método, principalmente quando utilizado de forma isolada no censo da espécie e perante um número reduzido de crias.

Em resumo, a monitorização contínua ao longo de mais de três anos duma área específica do distrito de Bragança permite confirmar a tranquilidade do território, a estabilidade da reprodução do lobo-ibérico e o aumento consolidado das suas principais presas.


Agradecimentos

Agradeço ao Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) a autorização emitida para a realização do trabalho de campo. Agradeço ao Dr. Luís Moreira o apoio imprescindível e entusiasmo que sempre demonstrou; sem a sua ajuda este trabalho não teria sido possível.


Proximamente

Os dados referentes a 2010 encontram-se já trabalhados e serão revelados brevemente.

19 dezembro 2010

Seguimento de duas alcateias durante o ano 2009 (4)

Os esgaravatados constituem uma forma de marcação do território por parte do Lobo-ibérico (Canis lupus signatus).


Fotografia de Gato-bravo (Felis silvestris) obtida numa manhã quente do mês de Julho.


(continuação do post anterior)

Dados do território de ambas as alcateias

Em 2009 foram obtidas na área estudada do Distrito de Bragança 103 fotografias e vídeos de lobo-ibérico, correspondendo a 11% do total de registos obtidos. Destes, quarenta e quatro registos de lobo (43%) foram obtidos durante o dia.

Verificou-se que tanto no território da Alcateia de Bragança Norte como no território da Alcateia de Bragança Sul, das 3 principais presas (Javali – Sus scrofa-, Veado – Cervus elaphus - e Corço – Capreolus capreolus -), o javali é a espécie mais frequente (16% e 13% dos registos fotográficos obtidos respectivamente), seguido pelo veado (11% e 9% dos registos respectivamente) e depois o corço (entre a 1 a 2% dos registos fotográficos).

Relativamente a anos anteriores (2007 e 2008) constata-se que a detecção de javali e de veado continua a aumentar enquanto a detecção de corço estabilizou.

Nas restantes espécies continua a detectar-se a presença de Gato-bravo (Felis silvestris) (estabilidade no número de indivíduos detectados relativamente a anos anteriores), bem como da Marta (Martes martes) e Texugo (Meles meles) (estas últimas espécies apresentaram uma descida no número de indivíduos detectados).

Refira-se ainda o aumento significativo na detecção de Lebre-ibérica (Lepus granatensis) e a ausência quase total na detecção de cães (Canis lupus familiares).

(conclusão no próximo post)

04 dezembro 2010

Seguimento de duas alcateias durante o ano 2009 (3)



Crias de Lobo-ibérico (Canis lupus signatus) da Alcateia de Bragança Sul filmadas e fotografadas durante o Outono de 2009.

(continuação do post anterior)

Resultados

Alcateia de Bragança Norte

Durante o ano 2009 confirmou-se a presença e reprodução da Alcateia de Bragança Norte, que aconteceu no local tradicional de cria.

Apesar da realização de 6 estações de escuta não foi possível obter resposta a uivos simulados, pelo que o recurso a armadilhagem fotográfica foi fundamental para confirmar a reprodução deste grupo familiar: no dia 3 de Novembro, às 21 horas, foi registada em vídeo a primeira cria de lobo.

A análise pormenorizada às fotografias e vídeos obtidos permite concluir que o nº de crias desta alcateia em 2009 terá sido pelo menos de duas.


Alcateia de Bragança Sul

Pela primeira vez procedeu-se ao seguimento anual desta alcateia. Embora nos meses de Junho e Julho a maior concentração de dejectos se localizasse num determinado vale do seu território, a partir de Setembro constatou-se uma maior densidade de sinais indirectos noutra linha de água, localizada a cerca de 1 quilómetro da primeira. Neste local confirmou-se a reprodução da Alcateia de Bragança Sul no dia 24 de Novembro, altura em que 2 das crias deste grupo familiar foram filmadas por um dispositivo automático activado por detecção de movimento. Refira-se que as crias apresentaram com frequência actividade diurna tendo sido observadas directamente pelo autor.

Foram realizadas 4 estações de escuta no local confirmado de reprodução sem que os lobos respondessem aos uivos simulados.

(continua no próximo post)