29 janeiro 2009

Autor de incêndio próximo a Rio de Onor condenado ao pagamento de 1 milhão de euros

O aceiro visível à direita representa a fronteira entre Portugal e Espanha ou entre o Parque Natural de Montesinho e a Reserva de Caça da Sierra de la Culebra. O pinhal que se vê nesta imagem (obtida pouco antes do incêndio de 2006) foi consumido pelas chamas.

Maio de 2006. J.M.P.R., de naturalidade espanhola, sai pela manhã das aldeias gémeas de Rio de Onor (portuguesa, localizada no Parque Natural de Montesinho) /Rihonor (espanhola, incluída na Reserva de Caça da Sierra de la Culebra) em direcção a uma parcela de terra de sua propriedade que se encontra alguns quilómetros a Norte em Espanha. De forma ilegal e imprudente fez aquilo que tantos proprietários fazem: limpou a vegetação e iniciou a queima de mato sem a necessária autorização.
O dia estava quente e o vento forte. Rapidamente o fogo propagou-se. A poucas centenas de metros, soube-se mais tarde, criava uma alcateia de Lobos-ibéricos (Canis lupus signatus). Enquanto J.M.P.R. regressava de forma dissimulada à aldeia o fogo arrasava 378 hectares de bosque, principalmente Pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e Carvalho-negral (Quercus pyrenaica), bem como outros 163 hectares de terreno vegetal. Tratava-se de um bosque maduro, plantado com o objectivo de aproveitamento florestal, contudo que albergava uma importante diversidade biológica sendo comprovadamente frequentado por jóias da nossa fauna como a Marta (Martes martes) ou o Gato-montês (Felis silvestris).
O trabalho de extinção, que contou com ajuda de meios aéreos e assistência portuguesa, prolongou-se por 3 dias. Custou mais de 173 mil euros. Os prejuízos estimados, nomeadamente a perda de madeira de excelente qualidade, foram estimados em mais de 870 mil euros. Há outros danos não contabilizados: no ano seguinte (2007) o lobo não criou na zona e os padrões de ocupação de espaço pelo Veado (Cervus  elaphus)  alteraram-se substancialmente.
Janeiro de 2009. A justiça espanhola condena o autor do incêndio, habitualmente residente em Madrid mas com segunda habitação em Rihonor, ao pagamento de uma indemnização milionária à Junta de Castela e Leão de mais de 1 milhão de euros como única forma de evitar a prisão. O tribunal considerou como gravemente imprudente a actuação do condenado. Refere que, atendendo ao risco elevado de incêndio nesse dia, não tomou as medidas extremas de segurança necessárias, não solicitou a indispensável autorização para a queima de resíduos vegetais às autoridades competentes e atendendo ao lugar onde se iniciava o fogo e aos espaços naturais protegidos envolvidos (Reserva de Caça Sierra de la Culebra e Parque Natural de Montesinho) era previsível um importante dano ao Meio Ambiente.
A sentença é histórica. Os tesouros ambientais da Culebra e Montesinho estão agora mais protegidos.

19 janeiro 2009

O longo Inverno das Cegonhas-brancas no Norte de Portugal

Cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) pousadas no ninho em pleno mês de Janeiro, próximo a uma aldeia de montanha do Parque Natural de Montesinho.

Há cada vez mais Cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) na Península Ibérica e muitas escolhem abdicar da migração outonal e permanecer entre nós nestes meses frios. Tal é mais comum no Centro e Sul de Portugal contudo, nos últimos anos, este mesmo fenómeno tem-se verificado no Norte do país e inclusive em zonas de montanha.

No Parque Natural de Montesinho o presente Inverno tem obedecido aos padrões habituais, ou seja, sucedem-se os nevões e as temperaturas mínimas não ultrapassaam consecutivamente valores negativos. O Rio Onor, por exemplo, na zona oriental do parque encontra-se praticamente gelado à passagem pela aldeia com o mesmo nome. Causa por isso alguma surpresa constatar que enquanto neva um irredutível casal de cegonhas-brancas permanece imóvel no seu ninho em plena aldeia de Gimonde aguardando por uma meteorologia mais benévola. Constituirá este um exemplo das alterações climáticas e da capacidade adaptativa da fauna a novas  condições ambienciais? Ou será que no passado, quando as populações de cegonha-branca eram igualmente densas, este fenómeno já se verificava?

Não sei a resposta mas espero que a estratégia resulte... na Primavera darei conta do que sucedeu a este casal.

04 janeiro 2009

Corvo-marinho-de-faces-brancas: a ave pesqueira que nos visita de Inverno

Exemplar de Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo). Fotografia: Stawomir Staszczuk.

Proveniente das Ilhas Britânicas, Países Baixos e Dinamarca, o Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) é uma ave migradora que visita o nosso país entre Setembro e Abril. Grande, robusta e de coloração escura com excepção de pequenas áreas brancas na cabeça e flancos, trata-se de uma espécie com excelentes dotes para a pesca. 
Percorre com frequência os rios e albufeiras do interior do país no que se distingue do seu parente próximo, o Corvo-marinho-de-crista (Phalacrocorax aristotelis). É comum encontrá-la pousada próximo da água, inserida num grupo, com as asas abertas para melhor secar a plumagem após mergulhos em busca de alimento. 
Na tarde do dia de Natal, após ter observado o voo majestoso de uma Águia-real (Aquila chrysaetos) sobre as escarpas do Rio Sabor, deparei com 3 corvos-marinhos-de-faces-brancas em plena jornada de pesca. Por mais distraído que fosse o observador não podia deixar de reparar no espectáculo: as 3 aves negras sobressaíam de forma bem evidente nas encostas brancas, recobertas de gelo, do vale do Sabor. 
Nos próximos anos é provável que o espectáculo continue: os efectivos desta espécie têm aumentado, calculando-se que a Península Ibérica seja visitada a cada Inverno por mais de 70 mil indivíduos. Mais: a sua reprodução já foi confirmada na vizinha Espanha, havendo pelos menos 60 casais que preferem passar o Verão nas nossas latitudes.