30 março 2006

O Lobo nos Pirinéus Orientais


O Lobo (Canis lupus) regressou aos Pirinéus Orientais!
Esta foi a notícia veiculada pelo Paris Match e pelo Le Monde já em Setembro de 1999. Nos primeiros anos deste século os dados oficiais confirmaram de forma sustentada o regresso do grande predador. As fontes são várias:
  • compensações pagas pelo governo francês pela predação exercida pelo lobo sobre o gado na Reserva Natural de Nohèdes (Maciço de Madres-Coronat)
  • 3 exemplares distintos de lobo identificados em estudo genético de excrementos encomendado pelo ONCFS (Office National de la Chasse et de la Faune Sauvage) entre 1998 e 2000 na mesma reserva
  • uma fotografia deste canídeo obtida em Agosto de 2002 no Maciço de Carlit
  • o anúncio oficial, a 12 de Fevereiro de 2004, pela Generalitat de Catalunya da presença de um lobo no Parque Natural de Cadi, confirmada por estudos genéticos.
O mais curioso é que todas as situações que puderam ser comprovadas pela genética indicam que a colonização está a ser efectuada por lobos "italianos", ou seja pela sub-espécie Canis lupus italicus. Isto significa que este canídeo conseguiu suplantar a grande barreira à sua dispersão desde os Alpes do Sul, que é o humanizado Vale do Rhône (consultar imagem acima). A corroborar tal facto está descoberta em 1997 e 99 de 2 cadáveres de lobo no Maciço Central.
Perante tanta evidência só me resta afirmar: bem-vindo de volta!

22 março 2006

Queimadas

Incêndio em Fevereiro num dos vales mais remotos do Parque Nacional da Peneda-Gerês

Nestes dias caminhando pelas serras do Norte de Portugal podem-se observar várias colunas de fumo elevando-se no céu. Correspondem a dezenas de fogos diários, na sua maioria ateados pelas populações locais (principalmente pastores) mas também pelas autoridades competentes (Serviços Florestais). Pretende-se com estas queimadas intencionais renovar os pastos ou então queimar áreas de "mato" com vista a prevenir os grandes incêndios de Verão.
Os resultados desta actividade contudo são no mínimo controversos. Primeiro porque queimar as mesmas áreas ao longo de anos não renova os pastos, antes acaba por esgotá-los. Depois porque ao incendiar "simples matos" se está na realidade a destruir zonas de regeneração de vegetação autóctone bastante mais ricas para a nossa fauna do que as monoculturas de Pinheiro-bravo ou Eucalipto.
Em Portugal infelizmente as montanhas estão associadas ao fogo... em qualquer altura do ano!

16 março 2006

Ainda o Inverno


Estamos a meio de Março e os dias são cada vez mais longos. Adivinha-se o regresso da Primavera, antecipa-se a explosão de vida... contudo nas nossas montanhas o Inverno ainda persiste.
Na Cordilheira Cantábrica os cumes apresentam-se revestidos por um manto branco imaculado, os bosques continuam despidos, os prados permanecem estéreis, as aldeias encontram-se isoladas do mundo.
E a fauna? São os dias mais duros do ano, em que a escassez de alimento é extrema.
Todos ansiamos pela próxima estação...

08 março 2006

A Marta no Alto Minho - Conclusão

Um mustelídeo durante a noite e um Corço (Capreolus capreolus)
durante o dia passam defronte do mesmo carvalho, realçando a
tranquilidade que ainda existe nesta serra minhota.
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Em Junho de 2004, após vários meses de trabalho de campo, consideramos terminada a primeira fase deste estudo. Tínhamos colocado câmaras fotográficas automáticas nos principais vales desta floresta do Alto Minho e determinado aqueles em que era frequente a presença de Marta (Martes martes), um mustelídeo do qual ainda pouco se sabe em Portugal.
As ameaças que este animal enfrenta estão na sua maioria relacionadas com o meio em que vive. O fogo, o corte de árvores, a fragmentação do bosque pela construção de novas estradas ou alargamento das já existentes poderão fazer perigar a evolução da sua população.
A maior ameaça contudo será provavelmente o veneno. Usado frequentemente pelos pastores locais com vista a eliminar o Lobo (Canis lupus) para diminuir os danos que este super-predador inflige aos seus rebanhos, o veneno é uma arma cega, que mata indiscriminadamente todos os predadores, incluindo a marta.
São necessárias medidas de sensibilização da população rural minhota alertando para os graves danos que a utilização do veneno provoca no meio ambiente e também uma vigilância eficaz das nossas áreas naturais mais importantes. Só assim será possível continuarmos a usufruir da presença deste pequeno mamífero, tão ágil e gracioso.
Termino com uma nota de optimismo. Em Novembro de 2005 foi possível confirmar a presença de marta numa floresta extensa contígua, já pertencente a Espanha (Galiza). As duas populações parecem estar em comunicação aumentado assim consideravelmente o número total de individuos e diminuindo a vulnerabilidade da população portuguesa.

02 março 2006

A Marta no Alto Minho - VI


Gineta fotografada em local de presença habitual de Marta
(Martes martes)
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Animais que partilham o território com a Marta (Martes martes)
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No trabalho de campo efectuado para determinação da ocorrência de Marta nas serras do Norte de Portugal foram identificados outros animais que compartem o mesmo território.
Merece particular destaque, pelo facto de potencialmente predar sobre as mesmas presas, a presença da Gineta (Genetta genetta) - ver gráfico em anexo.
Significativo é também o elevado número de fotos de Rato-do-bosque (Apodemos sylvaticus) nas zonas de presença confirmada de marta, podendo constituir um recurso importante na dieta deste mustelídeo.
O Javali (Sus scrofa), o Corço (Capreolus capreolus) ou predadores como a Raposa (Vulpes vulpes) e o Lobo-ibérico (Canis lupus signatus) são presença assídua do habitat por onde deambulam as martas do Noroeste português.