27 agosto 2007

No meio dos Javalis

Fêmea de Javali (Sus scrofa) observa-me atentamente enquanto a sua prole alcança a segurança.

Conforme se pode facilmente constatar pela fotografia esta fêmea ainda se encontra a amamentar as suas crias (clique com o botão esquerdo do rato sobre a imagem para ampliá-la).

Uma das situações mais delicadas que pode suceder a qualquer amante da Natureza numa caminhada pelas nossas serras diz respeito ao encontro imediato com uma vara de Javalis (Sus scrofa).
Em locais com baixo índice de furtivismo e boa cobertura vegetal é relativamente frequente observarem-se nesta altura do ano grupos familiares constituídos por 1 ou 2 fêmeas acompanhadas pela respectiva prole. Na maioria das ocasiões os suídeos limitam-se a continuar o seu caminho, por vezes iniciando uma fuga a toda a velocidade. Pode contudo suceder que uma das fêmeas devido ao nosso posicionamento inadvertido nos considere uma ameaça real para as suas crias. Nessa altura ela não foge: antes encara-nos permitindo assim que os seus filhotes alcancem a segurança. Inclusivamente pode-se decidir por uma carga sobre o incauto naturalista!
Estes momentos de enfrentamento (que feliz ou infelizmente já tive a oportunidade de experimentar) são instantes inesquecíveis, carregados de tensão. Correspondem a raras circunstâncias que nos obrigam a recordar que a fauna ibérica, apesar de milénios de condicionamento e temor ao Homem, não pertence a ninguém e transporta ainda bem viva a centelha da liberdade...

20 agosto 2007

Final de tarde de Agosto


Estamos em Agosto e por esta altura do ano, principalmente no interior do país, o verde da Primavera deu já lugar ao tom amarelado característico das terras que experimentam um acusado défice hídrico. A chegada do estio está associada às primeiras incursões dos juvenis das diferentes espécies para o exterior das suas tocas ou ninhos. Enquanto os herbívoros anseiam por melhores pastagens, os carnívoros regozijam-se com a abundância de presas inexperientes.
Ao forte calor do meio do dia sucedem com frequência na alta montanha tempestades tão breves quanto violentas. Após minutos de intensa precipitação e em que a queda de relâmpagos constitui uma ameaça real para todos os seres vivos, a Natureza como que se arrepende dos seus excessos proporcionando imagens de grande beleza e serenidade como a que está reproduzida acima.
Dificilmente haverá melhor final de tarde do que o de um dia longo de Agosto...

16 agosto 2007

A perdiz-comum


Progenitora e cria de Perdiz-comum (Alectoria rufa) fotografadas este Verão num refúgio de caça do Norte de Portugal.

A Perdiz-comum (Alectoris rufa) é uma das principais espécies cinegéticas da fauna ibérica. Amplamente distribuída, trata-se de uma ave capaz de se adaptar a diferentes habitats e franjas altitudinais alcançando as maiores densidades na paisagem tipicamente mediterrânea do Sul de Portugal e rareando nas montanhas do Norte.
Alimenta-se sobretudo de sementes e folhas de plantas silvestres ou cultivadas (como gramíneas ou leguminosas); com frequência as crias no decurso da Primavera consomem também um número apreciável de insectos.
Estima-se que existirão mais de 2 milhões de exemplares em toda a Península Ibérica constituindo uma das principais presas-chave, fundamental para o regime alimentar de espécies ameaçadas de extinção como a Águia-real (Aquila chryseatus) ou Águia-perdigueira (Hieraaetus fasciatus). Esperemos que esta progenitora e a sua cria, fotografadas num dos raros refúgios de caça portugueses, possam sobreviver à perseguição venatória que decorrerá entre 5 de Outubro e 30 de Dezembro, de forma a poderem desempenhar o seu papel ecológico da forma mais natural possível...

09 agosto 2007

Explorações mineiras: cicatrizes na paisagem

Mina a céu aberto localizada no Principado das Astúrias próximo à Reserva da Biosfera da UNESCO de Muniellos, bastião da principal população de Urso-pardo (Ursus arctos) da Península Ibérica.

Aspecto actual das minas de volfrâmio de Portelo no Parque Natural de Montesinho, onde decorre um projecto de recuperação ambiental.


Nas montanhas da Península Ibérica ainda são relativamente frequentes as cicatrizes na paisagem provocadas por explorações mineiras actuais ou passadas.
Na Cordilheira Cantábrica por exemplo, habitat de espécies tão ameaçadas como o Urso-pardo (Ursus arctos) ou o Galo-montês (Tetrao urogallus), co-existem a poucas centenas de metros dos locais de criação destes animais minas a céu aberto, feridas abertas nas encostas florestadas que chegam a atingir quilómetros de diâmetro.
Em Portugal, em pleno Parque Natural de Montesinho as antigas minas de volfrâmio de Portelo, localidade fronteiriça no coração desta área protegida, embora desactivadas há mais de 20 anos ainda hoje marcam a paisagem com centenas de poços distribuídos por uma área de 15 hectares que colocam em risco a segurança das populações e da fauna protegida do parque. Mas este panorama está a mudar: actualmente decorrem trabalhos com vista ao encerramento das cavidades e à recuperação ambiental desta vertente da Serra de Montesinho.
Parabéns à Câmara Municipal de Bragança responsável pela iniciativa a qual devolve a dignidade perdida a uma das mais belas montanhas portuguesas. Espero contudo que os responsáveis políticos locais sejam coerentes e que depois do grande esforço económico envolvido neste projecto (fala-se em mais de 1,5 milhões de euros) não deitem tudo a perder instalando dezenas de aerogeradores na cumeada da serra arruinando assim o maior valor desta região: a sua paisagem belíssima, única no país...