13 dezembro 2006

Rio Sabor: o eixo da Natureza Transmontana (2)


A principal ameaça à preservação da extraordinária biodiversidade do Vale Sabor e dos seus diferentes habitats é a previsível construção da barragem do Baixo Sabor. Impulsionada por um lobby fortíssimo a sua edificação é praticamente inevitável. Como cidadão preocupado com a preservação das áreas ecologicamente mais sensíveis do nosso país sinto-me na obrigação de desmistificar certas considerações que ultimamente tenho lido (fonte: Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade, S.A. - promotora do empreendimento)

"A barragem do Baixo Sabor é um empreendimento de elevado interesse estratégico pois aumenta a capacidade de produção de energia".
Esta afirmação está longe de corresponder à verdade uma vez que a energia produzida por esta barragem representará apenas 0,6% da energia consumida em Portugal em 2010. O próprio estudo de impacte ambiental considera que a sua importância energética é insignificante a nível nacional.

"A barragem do Baixo Sabor é um empreendimento de elevado interesse estratégico pois permite dispor de uma reserva de água muito importante, capaz de fazer face a situações de carência".
A construção de uma barragem alternativa no médio/alto Côa, com um impacte ambiental relativamente menor, permitiria a obtenção de uma reserva de água semelhante à expectável para o baixo Sabor (cerca de 600 hectómetros cúbicos).

"A barragem do Baixo Sabor é um empreendimento de elevado interesse estratégico pois numa zona em que se verifica uma desertificação crescente a construção do empreendimento constitui uma grande oportunidade para os projectos de desenvolvimento local e regional"
Se há província em Portugal na qual a construção de não uma mas antes várias barragens ao longo das últimas décadas não conseguiu travar a desertificação das suas povoações essa província é Trás-os-Montes.

Conforme apresentado no post anterior - ver Rio Sabor: o eixo da Natureza Transmontana (1) - o Vale do Sabor é dotado de uma Natureza exuberante e ímpar no contexto europeu.
A forma de desenvolvimento mais sustentável que poderia ser assegurado às gentes que vivem nas suas encostas seria a constituição de uma Área Protegida, talvez sob a forma de Parque Natural que, com o enquadramento financeiro adequado, promovesse e divulgasse os valores naturais da zona, empregasse nos seus quadros habitantes locais, fomentasse o Turismo Rural e formas de usufruição da paisagem ecologicamente correctas como a criação de trilhos pedestres, o Bird Watching, a canoagem, entre outros. A título de exemplo veja-se o que se passa no Principado nas Astúrias, na vizinha Espanha, em que, após o sucesso económico e ambiental que representou a constituição do Parque Natural de Somiedo em meados da década de oitenta, foram criados nos últimos anos mais 4 (!) Parques Naturais em zonas limítrofes, na maioria dos casos por pressão das populações locais.
Ao contrário da mensagem que pretendem fazer passar a construção da barragem do Baixo Sabor deixará o nosso país muito mais pobre...

4 comentários:

William disse...

Portanto, pesando o Baixo Sabor vs o Médio Côa... a verdade, caro Miguel é q eu acho q se acabarão por fazer as 2 barragens, qt + ñ seja porque por completa estupidez no manejo do affaire gravuras do Côa, estas são hoje em dia um ódio de estimação das populações locais, q nada estão a ganhar com elas, e que portanto vão tb querer a sua barragem... onde está o museu do Côa? Onde está o turismo rural?

Tat Wam Asi disse...

E assim vamos "evoluindo"..destruindo aquilo que temos de mais rico.

Abraço

Anónimo disse...

Concordo plenamente contigo Miguel. Devemos lutar para que tal construção não ocorra, não podemos deixar que mais erros se acumulem na gestão dum planeta que não é só nosso.

Anónimo disse...

Espero sinceramente que se consiga evitar a construção da barragem, mas devemos menosprezar a questão da produção de energia e reservas de água.
Tive sempre muitas reservas quanto ao nuclear, hoje não tenho dúvidas que Portugal não pode continuar a pagar a factura de não ter essa energia. E não me falem nos riscos porque não estamos livres deles. Somos mais uma vez uns "condes falidos com ares da grandeza do passado". Recentemente li as estatísticas do desemprego em Terras de Bouro assustadoras. Naturalmente que o PNPG não explica tudo, mas a gestão das áreas protegidas devia ser mais inteligente. O valor do Parque Nacional é inquestionável mas há muito tempo que deveria ter havido um programa de reorganização estratégica das actividades na sua área de influência. Proíbe-se tudo e depois incompreensível permite-se outras. Não preservarmos as paisagens se não preservarmos as populações que nelas habitam.
Parabéns pelo blog, tenho aprendido muito aqui.