05 janeiro 2007

Lince ibérico: presente e futuro do felino mais ameaçado do mundo (2)



Perante os resultados dramáticos disponibilizados pelo mais completo censo alguma vez realizado sobre a situação do Lince ibérico (Lynx pardinus) em Portugal e Espanha (no final de 2003 apenas se verificava uma presença vestigial do felino no nosso país e descida abrupta da população espanhola para um máximo de 30 fêmeas reprodutoras), iniciaram-se ambiciosos planos de conservação in situ (no terreno) e ex situ (reprodução em cativeiro, investigação e aprovação dos programas de recuperação da espécie).
Com o apoio logístico e financeiro da Junta da Andaluzia e da União Europeia foram investidos nos últimos anos mais de 1 milhão de euros em prol do lince. Uma das princiais áreas de actuação incidiu sobre o núcleo populacional da Serra Morena que, com cerca de 100 linces adultos e 20 fêmeas reprodutoras, constitui o principal reduto deste felino na actualidade.
A população da Serra Morena encontra-se dividida em dois núcleos separados por cerca de 5 quilómetros: o núcleo do vale do Jándula e o núcleo do vale do Yeguas. Este último é o que apresenta a situação mais problemática visto que em 2002 apenas existiam 7 linces, dos quais 3 eram fêmeas reprodutoras. Com mais de 70% da área na posse de privados e antes que qualquer medida de conservação fosse efectivada foi necessário iniciar prolongadas conversações com o intuito de se obterem as indispensáveis autorizações para o acesso e o manejo destas terras, o que finalmente foi conseguido em 2003.
Para melhorar a situação do lince era necessário aumentar a disponibilidade de alimento, ou seja aumentar a densidade da sua presa-alvo: o Coelho (Oryctolagus cuniculus). Como a solta directa de coelhos não produz habitualmente os resultados desejados procedeu-se então à construção de dezenas de cercados, com 1 a 4 hectares de perímetro, contendo entre 20 a 30 coelhos cada um, o que elevava a densidade generalizada do lagomorfo em toda a área a 2 coelhos por hectare (densidade mínima que permite a reprodução do lince). Além disso procedeu-se à elaboração de pontos de alimentação suplementar também com altas densidades de coelho. Resultado: dos 7 linces iniciais passou-se para 36 em 2006, ou seja a população de lince multiplicou-se por 5 (!) em apenas 3 anos. Existem agora 7 a 8 fêmeas reprodutoras que em 2006 deram à luz, só nesta sub população, 19 pequenos linces...
O sucesso deste projecto foi tão marcado que neste momento a União Europeia aprovou um novo orçamento de 25 milhões de euros, valor sem precedentes no âmbito da conservação de espécies ibéricas ameaçadas, para o prosseguimento das medidas já implementadas e translocação de exemplares para a segunda população mais importante de lince, a do Parque Nacional de Doñana, de forma a aumentar a variabilidade genética.

No próximo post falarei sobre as medidas de conservação ex situ do lince ibérico, nomeadamente o programa de reprodução em cativeiro.

2 comentários:

Tat Wam Asi disse...

Se quiseres l~e alguns posts antigos que tenho sobre essa maravilhosa espécie que é o nosso linçe ibérico. Grande abraço.

http://therainbowwarrior.blogspot.com/2006/09/laos-de-linces.html


http://therainbowwarrior.blogspot.com/2006/07/ainda-vivo.html

Anónimo disse...

Há pelo menos 60 anos havia linces no parque natural da serra de sao mamede no Alto Alentejo no conselho de CASTELO DE VIDE, tenho uma avó que vive lá, e eu vou la todas as férias, e disse-me quando andava na apanha à azeitona foi descansar num bosque e deu de caras com um lince ibérico quando acabou de acordar, deve ter sido uma experiência unica ver um lince no seu habitat natural.