19 janeiro 2014

A melhor prenda de Natal


Serra Morena Oriental e Lince-ibérico (Lynx pardinus) observado ao final da tarde de sexta-feira, dia 27 de Dezembro de 2013 e fotografado pelo amigo Juan Ignacio Alvarez Gil.

Estamos em Dezembro e o dia amanhece chuvoso na Serra Morena. Apesar da altura do ano não está frio.
Iniciamos cedo a caminhada que discorre ao longo do rio Jándula. Ao nosso redor estende-se a perder de vista o bosque mediterrâneo: quilómetros e mais quilómetros de sobreiros interrompidos por afloramentos graníticos. Sobre nós, aparecendo e desaparecendo no meio das nuvens carregadas, uma Águia-imperial (Aquila adalberti) solitária patrulha o território.
Prosseguimos ao longo do trilho até alcançarmos um promontório, sobranceiro ao rio. Cai um aguaceiro. Resolvemos parar, almoçar e dedicar as próximas horas à observação de fauna. Ao longo da tarde desfilam diante dos nossos olhos Veados (Cervus elaphus), Abutres-negros (Aegypius monachus), Águias-reais (Aquila chrysaetos), Gralhas-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax), Gamos (Dama dama), Coelhos (Oryctolagus cuniculus).
São já 16h 30 minutos e o dia aproxima-se do fim. A névoa cai sobre o vale, a luz escasseia. É hora de regressar. Mas algo acontece...
Avançando pelo meio do matagal mediterrâneo surge uma espécie diferente daquelas que tínhamos observado ao longo do dia. 
Tínhamos esperança que tal pudesse acontecer. Aliás atravessamos metade da Península Ibérica para o observarmos. É um animal grande, maior do que estávamos à espera de encontrar. Impressionam os membros, maciços, aparentemente desproporcionados em relação ao resto do corpo. A cor também sobressai pois apesar do céu carregado de cinzento observa-se facilmente a pelugem dourada. Este momento nunca o esquecerei enquanto viver: pela primeira vez observo um Lince-ibérico (Lynx pardinus) em estado selvagem.
No coração da Serra Morena, onde a população tem vindo a aumentar graças a meritórios esforços de conservação, no melhor mês do ano para a sua observação (altura do acasalamento), fomos presenteados durante mais de 30 minutos com o avistamento de um lince no seu habitat natural, avançando em silêncio, emboscando-se atrás de arbustos, refugiando-se sob blocos graníticos.
Aguardo o dia em que poderei repetir esta observação, mas em solo nacional...

4 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez um excelente artigo. Sou particularmente fan do lince Ibérico e do esforço para o salvar da extinção. Infelizmente ainda não o vemos em liberdade em Portugal em número que garanta a sua sobrevivência. Que o seu blog sirva para acordar a consciência ambiental Portuguesa e a preservação da vida selvage.
Amilcar Monteiro

Rafael Carvalho disse...

Se ao ler o texto senti um arrepio, imagino a emoção do que será ver em plena natureza um lince ibérico!
Cumprimentos.

Belmiro Xavier disse...

Parabéns, belo registo.

popo233 disse...

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