Parque Nacional de Doñana, vítima há 10 anos da maior descarga de lodos tóxicos e águas ácidas da Península Ibérica.
Já se passaram dez anos mas parece que aconteceu ontem: a 25 de Abril de 1998 cedia a estrutura de retenção de resíduos mineiros da vila andaluza de Aznalcóllar. De seguida 6 milhões (!) de lodos tóxicos e águas ácidas vertiam ao rio Guadiamar que cruza o Sudoeste de Espanha em direcção a umas das mais importantes áreas húmidas do mundo: o Parque Nacional de Doñana. Para se ter uma ideia da verdadeira dimensão do desastre basta dizer que o naufrágio do petroleiro Prestige arrastou para as costas galegas 63 mil toneladas de fuel, ou seja, a tragédia de Aznalcóllar comportou uma quantidade 100 vezes superior de contaminantes! Foram afectados mais de 60 quilómetros de extensão do rio Guadiamar, os lodos tóxicos inundaram os terrenos entre 500 a 1000 metros de largura desde o rio e 4 mil hectares de terras agrícolas foram considerados inaptas para o cultivo e expropriadas.
A pronta actuação das autoridades minimizou o impacto da catástrofe. Foi erguida com urgência uma barreira às portas de Doñana e a descarga desviada para uma corrente fluvial paralela. Com efeito a zona hoje conhecida como Entremuros no limite Norte do Parque Nacional, um dos locais com maior densidade de Lince-ibérico (Lynx pardinus) do planeta, deve o seu nome aos 2 quilómetros de diques de terra construídos propositadamente para conter a descarga. Simultaneamente iniciou-se um lento mas cuidadoso processo de recolha dos lodos que envolveu o trabalho conjunto de mais de 800 pessoas ao longo de meio ano: junto ao rio e nos locais mais sensíveis procedeu-se à remoção manual dos contaminantes de forma a evitar o impacto ambiental associado ao recurso a maquinaria pesada.
Graças ao esforço dispendido em 98 o Guadiamar recuperou: o habitat ribeirinho é hoje um espaço protegido (Corredor Verde del Guadiamar) que estabelece a ligação entre Doñana e os montados da Sierra Morena andaluza; recentemente foram identificadas 10 espécies de mamíferos, 114 espécies de aves, 27 de peixes e 8 de anfíbios; mesmo a Lontra (Lutra lutra) todo um símbolo da Conservação da Natureza voltou ao local.
Mas em Aznalcóllar sob uma camada impermeável repousam ainda 20 hectómetros cúbicos de lodos tóxicos e não existe tecnologia para os tratar. Tudo o que se pode fazer é vigiar de perto para que a tragédia não se repita...
1 comentário:
Chamam-lhe o progresso
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