Villarina, a cria de Urso-pardo cantábrico (Ursus arctos) mais mediática de sempre [Fotografias FAPAS e Fundación Oso Pardo].
Cordilheira Cantábrica, Junho de 2008: uma fêmea de Urso-pardo cantábrico (Ursus arctos) deambula por um dos maiores bosques caducifólios ibéricos em busca de alimento juntamente com as suas 3 crias de 5 meses de idade. Enquanto sobem a encosta uma das crias cai e sofre um traumatismo craniano. Desorientada a pequena ursa desce cambaleante até ao fundo do vale por onde passa uma estrada pouco transitada.
Mais tarde um casal de turistas que se tinha deslocado à Cordilheira Cantábrica para conhecer o "País dos Ursos" mal pode acreditar no que vê: à frente do seu carro encontra-se uma frágil cria de urso. Prudentes fingem ignorá-la primeiro, depois tentam reconduzi-la de volta ao bosque mas o "esbardo" (termo asturiano que designa cria de urso) regressa teimosamente à estrada. Finalmente e porque se apercebem de que o animal não se desloca normalmente e não há sinais da progenitora, recolhem-na e entregam-na na delegação mais próxima da Fundación Oso Pardo.
Durante o Verão as Astúrias e toda a Espanha acompanham a recuperação da pequena ursa, entretanto baptizada de Villarina de acordo com o nome da aldeia mais próxima do local onde foi encontrada. Inicialmente tratada em Oviedo, o agravamento do seu estado de saúde obriga ao transporte de urgência para um centro veterinário intensivo na vizinha Cantábria. Felizmente em Agosto Villarina já se encontra livre de perigo e regressa ao Principado das Astúrias ingressando num Centro de Recuperação de Fauna (foto 1).
Começa então a discussão: que fazer à pequena ursa? Depois de tantos meses em cativeiro e apesar de todo o cuidado em reduzir a exposição ao Homem será que consegue sobreviver de novo na Natureza? Não será mais prudente mantê-la em cativeiro servindo o propósito de educação ambiental? Depois de tanta exposição mediática será legítimo utilizá-la como atractivo turístico das regiões por onde deambula o urso?
No terreno o Fondo Asturiano para la Proteccion de los Animales Salvages (FAPAS) através da utilização de câmaras fotográficas automáticas estrategicamente colocadas localiza a progenitora e os dois irmãos de Villarina (foto 2).
O que se passa de seguida demonstra na perfeição a referência que o Principado das Astúrias constitui em termos de Conservação da Natureza, comparando com a restante Espanha e Portugal: em Setembro o departamento de Meio Ambiente do Principado reúne com as principais associações ligadas à Conservação da Natureza, com biólogos especialistas na gestão do urso-pardo e com os directores das áreas protegidas asturianas para decidir o futuro da cria de urso. A decisão final, apesar dos riscos envolvidos, passa pela a reintrodução do esbardo no bosque por onde nesse momento deambula o seu grupo familiar.
Novembro 2008. A neve começa a cair nos belíssimos cumes cantábricos. Há já duas semanas que Villarina voltou às montanhas que a viram nascer (foto 3). De momento o reencontro com a mãe e irmãos ainda não ocorreu. Ao nascer e pôr-do-sol a cria, agora com 10 meses de idade, deambula por um extenso faial repleto de alimento. Com a descida de temperatura recolhe a uma pequena gruta onde se prepara para hibernar. A mais de um quilómetro de distância todos os seus movimentos são seguidos por uma equipe permanente da Fundación Oso Pardo munida de poderosos telescópios.
Não sabemos se Villarina sobreviverá ao seu primeiro Inverno. Mas todos os cuidados, tempo e dinheiro disponibilizados para salvar esta única cria de urso-pardo permitem compreender porque é que nas Astúrias a população do plantígrado em estado selvagem duplicou nos últimos dez anos: é porque aqui a conservação e respeito pela Natureza não constituem apenas uma obrigação legal mas antes um desígnio de toda a sociedade...
1 comentário:
Esperemos que esta ursa sobreviva, e seja um exemplo para toda a sociedade ibérica
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