Couto Grande
Colmadela
Baixo Arroio
Alto Arroio
Com o devido respeito pelos dirigentes e técnicos envolvidos, estas afirmações não correspondem à verdade. A grande maioria das áreas utilizadas para caçar pelo único exemplar de águia-real do PNPG, as que seguramente apresentavam as maiores densidades de Coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), foram totalmente dizimadas pelas chamas. As imagens acima publicadas confirmam isso mesmo.
A águia-real é uma das mais raras aves de rapina portuguesas. Segundo o recém-publicado Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, não existirão mais de 60 casais no nosso país, estando classificada como "Em Perigo de Extinção". No PNPG sobrevive um único exemplar.
O desaparecimento desta águia, a verificar-se, confirmará o que desde há anos se adivinha: mais de 30 anos após a sua criação o Parque Nacional, a jóia de coroa da Conservação da Natureza em Portugal, terá fracassado num dos seus objectivos principais. Será altura para questionar: se no local de máxima protecção ambiental foi possível a extinção de um dos animais selvagens mais emblemáticos, o que esperar da conservação do restante património natural português?
Preocupado com a mais que provável falta de alimento que este exemplar de águia-real e outros vertebrados selvagens actualmente enfrentarão redigi a seguinte carta aberta ao Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês:
"Exmo. Prof. Henrique Pereira,
Actualmente esta águia-real, que felizmente ainda sobrevive, e um grande número de predadores ameaçados de extinção, nos quais se incluem o Lobo (Canis lupus signatus), o Gato-bravo (Felis silvestris), o Tartaranhão-caçador (Circus pygargus) ou o Açor (Accipiter gentilis) vivem um período de grande escassez alimentar. Neste contexto venho pedir-lhe para colocar em prática uma medida de baixo custo económico e que seria de grande valia para os vertebrados selvagens desta área do PNPG: a disponibilização de alimentação suplementar para a fauna. De fácil construção e manutenção, a colocação de alimento numa estrutura preparada para o efeito num qualquer local da Serra da Peneda seria um contributo importante para a sobrevivência de alguns dos animais mais emblemáticos do Parque Nacional.
Miguel Barbosa"
6 comentários:
Sem questionar a utilidade ou não da disponibilização de suplementos alimentares para a águia real (o quê? como? onde? com que consequências? são perguntas que devem naturalmente ser respondidas previamente) e tendo aprazada uma visita aos locais ardidos este ano e ainda ao Cabril, a fazer lá mais para o Outono (apesar de ser cedo, as consequências só podem ser avaliadas após a primeira Primavera), ainda assim gostaria de fazer três comentários:
O primeiro às fotografias, porque a situação me parece bastante mais suave do que eu estaria à espera. Há em todas as fotografias manchas de verde que se acentuam nas depressões e devo dizer que isso é um excelente indício de que a intensidade do fogo não foi tão elevada como se poderia supor;
O segundo à afirmação de que as declarações do Director do Gerês se deverão à nota de imprensa do ICN. Evidentemente é o inverso, é claro que é a nota de imprensa que se baseia na informação disponível no PNPG no momento em que é elaborada. A menos que tivesse havido alguma inversão de 180 graus no que é a prática habitual.
A última em relação à águia real e ao coelho. Como já fiz notar, Paulo Fernandes refere um fogo no Marão como eventual razão para a criação do casal de águia real existente no determinado ano. Esta hipótese tem todo o sentido. Para além das epizootias do coelho que dizimaram as suas populações, a verdade é que o despovoamento e consequente crescimento dos matos dificultam muito a vida ao coelho que prefere áreas abertas e com erva para se alimentar (embora na proximidade de zonas de refúgio). Por essa razão as maiores densidades de coelho do país encontram-se nas zonas de caça do Alentejo especificamente geridas para a produção de perdiz, bem como nos campos de golfe. Isto é, a dinâmica actual da vegetação é no sentido da diminuição da existência de coelhos (e perdizes) por falta de áreas abertas e de vegetação rasteira, incluindo pastos, mercê do despovoamento e abandono rural. Para a águia real isto são más notícias, não só porque diminui a disponibilidade de presas, mas também porque ela própria, a águia, também tem muito maior dificuldade em caçar nessas circunstâncias.
Assim sendo, e tendo em atenção que a época de reprodução está passada e as águias neste momento têm movimentos dispersivos muito alargados (para quem quiser ter uma noção pode ir ao site www.icn.pt e procurar o seguimento de rapinas por satélite), que pelo que se vê nas fotografias a recuperação da cobertura do solo vai ser muito rápida (discussão diferente é a da recuperação dos azevinhos, que dos carvalhos não tenho qualquer dúvida face ao que estou a ver nas fotografias), o mais provável é que na próxima época de criação as condições sejam muito mais favoráveis para a águia real que foram na anterior época de criação.
Não estou a advogar que se façam incêndios destes para recuperar a águia real (quem quiser conhecer alternativas penso que dentro de um ano poderá ver os resultados do programa de gestão de habitat para a águia real do Marão associado aos parques eólicos), mas não vale a pena insistir na águia real como um dos perdedores deste fogo: provavelmente isso não é verdade.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique,
Não tenho por hábito comentar os post que edito. Neste caso abro uma excepção para concordar consigo relativamente à origem da informação avançada pelo ICN e pelo Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG): obviamente que a fonte da informação provêm do próprio PNPG.
Aproveito para lhe agradecer a atenção com que tem seguido este blog e a qualidade dos seus comentários.
Muitas das vezes não concordo com as suas posições mas aprecio a sua frontalidade. Polémicas à parte todos queremos o mesmo: que os nossos filhos e netos possam encontrar uma natureza pelo menos tão preservada como nós a encontramos.
Miguel,
concordo em absoluto com a tua carta. O ICN já mostrou no passado a sua incompetência e este é apenas mais um exemplo. O director do PNPG apenas demonstrou que não esteve lá. Tu pelos vistos sim, pelo menos tens fotos...conheces os sitios.
Como podemos proteger algo que não conheçemos? que não amamos?
Porque cada exemplar pode fazer a diferença não acho a tua ideia descabida. Ou tentamos realmente preservar um dos ultimos habitats de vida selvagem em Portugal ou então mais vale deixar acontecer o mesmo que o Linçe ibérico. Morrer silenciosamente.
Grande Abraço
A informação que me chega é a de que o incêndio não terá chegado a afectar as áreas fundamentais da mata do Ramiscal.
É uma informação cujo grau de confiança não me permite grande segurança (embora seja consistente com o que vejo nestas fotografias).
Vou continuar a procurar dados mais concretos e avaliaremos nessa altura onde está a incompetência.
henrique pereira dos santos
Caro Miguel,
Talvez esteja confuso, mas tenho a ideia que o ano passado o Gerês foi notado como uma excepção no panorama Nacional dos Incêndios. Foi até citado como exemplo em vários jornais, lembro-me até de uma página do público onde se destacava a eficiência dos vigilantes do parque e a importância da diversidade das espécies florestais. Estarei a confundir?
Se não, como se explica a calamidade de 2006?
:,(
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