31 dezembro 2007

Reintrodução de Águia Pesqueira na Andaluzia

Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) fotografada no Parque Nacional de Banff (Montanhas Rochosas canadianas) em recente viagem do autor.

A Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) é uma belíssima ave de rapina com ampla distribuição mundial (desde as Montanhas Rochosas canadianas até Cabo Verde) que em Portugal apresenta um estatuto de conservação francamente desfavorável: segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados a população residente encontra-se Criticamente Em Perigo (sem evidência de reprodução desde finais do século passado) e a população invernante está classificada como Em Perigo de extinção (pois o número de indivíduos que nos visita durante os meses mais frios não deverá ultrapassar as duas dezenas).
No país vizinho a situação não é melhor: embora seja conhecida a reprodução de cerca de 16 casais nas ilhas Baleares e de 18 nas ilhas Canárias a verdade é que não há evidência de uma população residente na Espanha Continental.
Com vista a melhorar esta situação, e ao contrário da passividade demonstrada pelo organismo luso responsável pela conservação da Natureza, as autoridades espanholas estão a proceder desde 2004 à reintrodução deste super-predador dos meios húmidos. Até à data foram libertadas 40 crias de águia-pesqueira descendentes de progenitores alemães e escoceses na Paraje Natural de las Marismas del Odiel (só no Verão de 2007 foram libertados 9 exemplares). A expectativa é a de que, atendendo ao ciclo biológico da espécie, dentro de 3 anos possa reproduzir-se pela primeira vez nesta área protegida o que representaria a primeira cria de águia-pesqueira na Península Ibérica do século XXI.
Para além da boa notícia que este facto por si só representa, para nós portugueses há um motivo adicional de regozijo: é que a Paraje Natural de las Marismas del Odiel, espaço protegido de 7185 hectares classificado como Reserva da Biosfera pela UNESCO, Zona Húmida RAMSAR e Zona de Especial Protecção para as Aves (ZEPA), localiza-se próximo à cidade de Huelva a apenas cerca de 40 quilómetros da fronteira portuguesa. Poderá a águia-pesqueira voltar a criar no nosso país a médio prazo beneficiando do trabalho da Consejería de Medio Ambiente da Andaluzia?

7 comentários:

LS disse...

Votos de um bom ano 2008 com muitos e bons posts são os votos do "oceano das palavras".

O Burro do Ti Zé disse...

Um bom ano 2008 para si e para o Ambiente. Quanto à Àguia Pesqueira só espero que os caçadores portugueses também a saibam preservar.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Miguel,
O seu post levanta uma questão muito interessante: por que razão se deveria investir na reintrodução da águia pesqueira nidificante em Portugal?
Enquanto se partiu do princípio de que haveria diferenciação genética entre as populações residentes e migradoras fazia sentido esse investimento.
A partir do momento em que não há diferenciação genética e os programas de fixação da águia pesqueira (que não está globalmente ameaçada, como sabe) são feitos com exemplares vindos de populações migradoras, onde está a prioridade de conservação?
Uma coisa é passividade, outra é opção clara por prioridades Face aos recursos disponíveis.
E penso que concordará comigo que as prioridades de conservação do país estão muito longe da curiosidade biológica que constitui fixar uma população nidificante de um espécie migradora não especialmente ameaçada.
Claro que poderá sempre dizer que os recursos disponíveis deveriam ser mais. Bom, nesse caso não vale a pena falar da passividade do ICNB mas das opçõe políticas do Governo: como sabe o ICNB só é responsável por gerir bem os recursos postos à sua disposição, não é responsável pela atribuição desses recursos.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Olá Miguel... soube, pelo Miguel Pimenta, que nos desencontrámos no Geres!... :-( Fiquei com pena... acho que temos uma quantidade de temas que devíamos debater e, desde já, parabéns pelo blog e pelo magnifico trabalho que estás a fazer com o paulo. O encontro ficará para outra oportunidade... quem sabe no vidoeiro em Março... até lá

Anónimo disse...

Este sr Henrique farta-se de dizer barbaridades neste blog (sem dúvida que a maior foi acerca da destruição da mata do Ramiscal). Começo a ficar desconfiado de quem é o sr. Se calhar, indirectamente um dos responsáveis pelos incêndios que ocorrem no PNPG, ou não estaria o sr num cargo do ICN, que trabalha no Norte mas é de Lisboa... E é com muita tristeza que digo que provavelmente não voltarei a avistar águias pesqueiras na costa vicentina...

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Anónimo,
É muito fácil saber quem sou e o que faço porque assino por baixo do que escrevo.
Mas a discussão não é sobre mim, é sobre a prioridade que deve ter na política de conservação um projecto de fixação de águia pesqueira a partir de populações migradoras.
Sobre isso o caro anónimo diz quase zero e um disparate: o de que não espera ver águias pesqueiras na costa vicentina outra vez. Disparate em primeiro lugar porque todos os anos pode ver vários indivíduos de águia pesqueira na costa vicentina, o que não vê é nidificação; e disparate porque se as populações residentes da andaluzia recuperarem, como diz o Miguel Barbosa e bem, é natural que venham a expandir-se das zonas históricas de distribuição.
Quanto ao Ramiscal faço-lhe uma sugestão: se não quer ler os relatórios de acompanhamento após fogo vá lá.
É um passeio muito bonito e sempre fica com ideias mais concretas e sem intermediários sobre a real afectação da mata pelo fogo.
Com os melhores cumprimentos
henrique pereira dos santos
PS Pareceu-me pela sua referência ao meu trabalho no PNPG que haveria alguma confusão entre mim e o Chefe do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte, Henrique Pereira

Anónimo disse...

É o que digo, a revolução de abril de 1974 foi calamitosa para a nossa fauna e flora. O país está repleto de parques e reservas mas pelos vistos só existem no papel. Também havia pigargos na costa portuguesa antes da revolução...

João Gabriel Barbedo Marques