Mata de Albergaria fotografada no Verão de 2008. Observa-se à esquerda na imagem o vale do Cagademos, entretanto afectado pelo fogo.
Encosta de Bouça da Mó (imagem do Verão 2008), que foi poupada pelo incêndio de 22 e 23 de Março.
Faial (Fagus sylvatica) em Albergaria ou um dos tipos de bosque mais resistente ao fogo.
Falar de fogos florestais não é fácil: há várias maneiras de encarar o problema e cada um considera-se dono da razão. Habitualmente a discussão surge durante a ocorrência de incêndios graves (em termos de área ardida ou de valores ambientais) e raramente se ouvem as pessoas mais conhecedoras e cuja opinião teria mais valor: como técnicos da Autoridade Florestal Nacional, equipas do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) ou as equipas de sapadores que estão na frente de "combate". O resultado é a existência de discussões estéreis com um progressivo distanciamento da população urbana relativamente ao tema (não posso deixar de me espantar como é que a notícia de abertura dos principais noticiários televisivos por estes dias relacionou-se com futebol enquanto que decorria o incêndio mais grave da última década na floresta mais valiosa de Portugal Continental).
Combater o fogo em Albergaria é difícil e perigoso. Por isso antes de tudo a minha palavra é de reconhecimento e agradecimento por todos aqueles que nos dias 22 e 23 de Março estiveram na vertente Ocidental de Gerês a combater as chamas. Em especial quero referir a importância das equipas de sapadores florestais, do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS, uma das melhores medidas deste Governo) e das equipas do ICNB que, apesar da desorçamentação a que foi votado por governos sucessivos com a consequente desmotivação de pessoal, é um dos elementos-chave para que Portugal não esteja hoje totalmente devassado por interesses economicistas de curto-prazo.
Este incêndio contudo foi bastante grave e há que referi-lo. Ao contrário do que a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) difundiu e a Comunicação Social transmitiu a Mata de Albergaria ardeu mesmo. As chamas consumiram locais únicos como os fantásticos vales do Forno, Monção ou Cagademos. Aqui existiam enormes exemplares de Teixos (Taxus baccata) ou Carvalhos-alvarinho (Quercus robur) que eram percorridos por animais de que pouco se sabe no nosso país como a Marta (Martes martes).
Neste momento contudo ainda é cedo para falar da destruição que acarretou. O solo que se apresentava húmido pode ter possibilitado a salvação de ilhas de floresta, indispensáveis para o processo de reflorestação natural. Também ainda não acorreu o nascimento de crias de Marta, algo que só se verificará em Abril/Maio.
Os dias de 22 e 23 de Março de 2009 não devem ser esquecidos. A fragilidade da Mata de Albergaria ao fogo, a tendência de desvalorização dos factos por parte dos intervenientes políticos e a sucessão de actos eleitorais nos próximos meses podem constituir, se o Verão for quente e seco, o prenúncio de um ano problemático.
6 comentários:
Caro Miguel,
Percorri ontem e hoje os locais atingidos pelo fogo. Percorri os ribeiros de Cagademos (chamava-se Cága-Dêmos, nos anos trinta do século passado), Monção e Forno e ainda o vale do Homem atingido pelo fogo. Andei sob as copas do arvoredo, remexi no solo, olhei a mata de longe e o que vi foi o seguinte. Uma zona devastada cheia de ilhas, ilhas de vegetação. Os urzais desapareceram, o fogo chegou às rochas, a terra queimou em vários locais, mas os carvalhais e sobretudo os faiais resistiram relativamente bem. À primeira vista os solos dos carvalhais e dos faiais foram pouco atingidos, mas o que mais me espantou foi o comportamento das faias. Não tenho a certeza pois não conheço o comportamento desta espécie depois de um fogo, mas creio que o faial (o coberto arbóreo) irá aguentar na totalidade. Vista de longe a área, cerca de 500 hectares ardidos, causa impressão, mas creio que é uma questão de tempo para as marcas do fogo desaparecerem. E por falar em prenúncio, um bom prenúncio foram os dois corços que me saltaram á frente,hoje pela tarde, mal entrei no rio do Forno e que desapareceram por entre as faias chamuscadas pelo fogo.
Depois do Ramiscal, Albergaria...
Onde isto vai acabar??Sinceramente, que raio de país é este em que vivemos?? Noticiários que, constantemente, dão direito de antena a ladrões que vivem em liberdade e vivem na impunidade total mesmo depois de confessarem os seus crimes, enquanto SERES VIVOS indefesos (incluindo autotróficos,que não podem fugir), podem desaparecer por completo sem que a sociedade tenha conhecimento. Tb é triste assistir a comentários que desvalorizam por completo estes trágicos acontecimentos.Já agora, saberá o senhor Pimenta, porque se chamava Cága-Dêmos, ou será apenas chique dizê-lo?? Gostava de saber onde existe em Portugal uma outra Albergaria para eu deambular ? Ahhh, é verdade, tinha-me esquecido, outra Albergaria não existe...O Homem sempre usufruiu da Natureza (fazemos parte dela), mas agora ,mais do que nunca, a Natureza precisa urgentemente do Homem.Mais uma vez parabéns pelo blog e continuação do excelente trabalho!! - João Faria .
Exmo senhor João Faria,
Não, não estou a desvalorizar, antes pelo contrário. Limitei-me a descrever o que vi, a minha primeira impressão sobre Albergaria, e a transmitir uma nota de esperança ao autor do blog, com quem conversei, sobre o assunto, na noite anterior.
Para sua informação o termo Cága-Dêmos não é um termo chique, ninguém o usa. Se referi a palavra foi por mera curiosidade. O termo Cága-Dêmos estará ligado às quebradas, ou às enxurradas, que não eram raras naquele local.
Finalmente não percebo o porquê dessa sua irritação contra mim. Acredite que também fiquei (e continuo ainda) profundamente incomodado com mais este acontecimento criminoso. A diferença é que não virei a minha raiva contra ninguém, sobretudo contra alguém que nem conheço.
Com os melhores cumprimentos
Peço desculpa...
esperando anciosamente pelo proximo topico :D isto ja nem é topico é artigo :D
Que pena ver este blogue suspenso.
Um dos seus fãs encoraja-o a continuar. É um prazer seguir este blogue.
Enviar um comentário