29 janeiro 2008

Seguimento da Alcateia de Bragança - 2007 (3)

Quadro 1 - Espécies de mamíferos detectadas pelas estações fotográficas automáticas em 2007 e respectivo número de dias de detecção.

Embora o Veado (Cervus Elaphus) abunde no território da Alcateia de Bragança a sua densidade deverá ser inferior à de outras potenciais presas do Lobo-ibérico (Canis lupus signatus), como é o caso do Javali (Sus scrofa) ou do Corço (Capreolus capreolus).

(continuação do post anterior)

Resultados
Foram utilizadas pelo menos 2 câmaras fotográficas automáticas em simultâneo de forma a monitorizar a fauna que habita o território da Alcateia de Bragança. Refira-se que estas câmaras não foram colocadas nos locais mais adequados para fotografar o Lobo-ibérico (Canis lupus signatus) uma vez que a presença deste pode ser facilmente depreendida pelos sinais de marcação do território ou pela realização de estações de escuta. Procurou-se antes com o uso deste método fotográfico de detecção determinar quais os animais que partilham o espaço com o super-predador.
Assim ao longo de 2007 o número total de dias de funcionamento
efectivo das estações fotográficas (EF) automáticas foi de 554 dias (mediana de 21; desvio padrão foi de 10,83; números máximo e mínimo de dias de funcionamento das câmaras de 42 e 3 respectivamente) tendo-se obtido 233 fotos de fauna (mediana de 4 fotos por EF; desvio padrão de 11,09; número máximo e mínimo de fotos por câmara de 42 e 0 respectivamente).
O número de espécies detectadas por EF variou entre 0 e 7 (mediana de 2;
desvio padrão de 1,79). O quadro 1 apresenta todas as espécies de mamíferos identificadas e o número total de dias de detecção para cada uma delas.

(continua no próximo post)

16 janeiro 2008

Seguimento da Alcateia de Bragança - 2007 (2)

Gráfico 1 - Mediana (barra a negro) e respectivo interquartile range de dejectos de Lobo (Canis lupus signatus) detectados no território da Alcateia de Bragança ao longo das diferentes estações do ano.

Esta fêmea de Javali (Sus scrofa) foi fotografada próximo a um local habitual de passagem dos elementos da Alcateia de Bragança.

(continuação do post anterior)

Métodos
Foram realizados percursos pedestres no território da Alcateia de Bragança ao longo de todo o ano 2007, com um mínimo de periodicidade mensal, com o intuito de identificar sinais indirectos da presença do Lobo (Canis lupus signatus) e assim estabelecer padrões de ocupação do território. Simultaneamente e em locais considerados apropriados foram realizadas estações de escuta de forma a tentar confirmar a reprodução deste grupo familiar. Finalmente foram utilizadas câmaras fotográficas e de vídeo automáticas para registar a presença não só deste canídeo selvagem mas também da restante fauna vertebrada que habita o local, com especial ênfase na determinação da densidade relativa das suas potenciais presas.

Resultados
O autor efectuou 14 percursos pedestres no território da Alcateia de Bragança, perfazendo um total de 61,5 quilómetros percorridos (mediana de 4,75; desvio padrão de 1,97). Foram contabilizados 37 dejectos de lobo (mediana de 1 por cada percurso; desvio padrão de 3,92) com uma densidade máxima de 7 dejectos por quilómetro nos meses de Junho e Julho próximo ao local provável de criação desta alcateia em 2007.
O gráfico 1 apresenta a mediana de dejectos detectados por quilómetro em cada estação do ano. Verifica-se que a marcação do território alcança o seu valor máximo ao longo do Verão e Outono e desce para um valor residual na Primavera quando a discrição relativamente ao lugar de criação é máxima.

(continua no próximo post)

09 janeiro 2008

Seguimento da Alcateia de Bragança - 2007 (1)

Eis o extenso território da Alcateia de Bragança que reúne das melhores condições no nosso país para a sobrevivência do Lobo-ibérico (Canis lupus signatus).

Este grupo familiar de lobos partilha o seu território com outros mamíferos carnívoros como a Gineta (Genetta genetta).


Introdução

Conforme avançado em 3 artigos publicados no blogue Fauna Ibérica em Março de 2007 encontro-me a acompanhar desde há 2 anos um grupo familiar de Lobo-ibérico (Canis lupus signatus) do Distrito de Bragança, a que designo por Alcateia de Bragança. Esta alcateia é referida no Censo Nacional de Lobo 2002/03 embora lhe seja atribuída uma outra denominação (a qual não utilizo de forma a não expor em demasia uma espécie classificada no nosso país como em Perigo de Extinção).
Ao longo das próximas semanas publicarei neste site o resumo do trabalho de campo efectuado ao longo de 2007. Para além de terem sido realizados vários percursos pedestres e estações de escuta pelo território desta alcateia foram ainda utilizadas câmaras fotográficas e de vídeo automáticas para obtenção do máximo de informação possível sobre a fauna que habita este local. O esforço de campo e o investimento feito em material fotográfico foi realizado única e exclusivamente pelo autor. Os dados obtidos serão agora divulgados com o fim último de beneficiar uma espécie que constitui o símbolo máximo da Natureza portuguesa.

Descrição de Habitat
O meio em que habita a alcateia de Bragança constitui, pelas razões expostas de seguida, um dos mais adequados para o lobo-ibérico no nosso país:
  • Trata-se de um amplo território de perfil montanhoso (a altitude mínima é de 650 metros enquanto que a altitude máxima é de 1074 metros), com várias zonas de refúgio próximas a cursos de água.
  • Apresenta baixa densidade populacional (apenas 2 aldeias habitadas, ambas com menos de 100 habitantes e em regressão populacional).
  • Verifica-se um reduzido efectivo pecuário (o que reduz a possibilidade de ataques ao gado pelo lobo e consequentemente o grau de conflitualidade com o Homem).
  • Existem populações consideráveis de 3 presas-alvo: Javali (Sus scrofa), Veado (Cervus elaphus) e Corço (Capreolus capreolus).
  • A exploração cinegética do território em questão encontra-se em grande parte nas mãos do Estado Português através da figura de Zona de Caça Nacional.
  • A vigilância do território é frequente e efectuada por 3 entidades distintas: o Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), a Direcção-Geral de Florestas (DGF) e o Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente (SEPNA).
(continua no próximo post)

04 janeiro 2008

A resistência do Teixo

Envolto pelos ramos de um Azevinho (Ilex aquifolium) localizado a seu lado, são bem visíveis neste Teixo (Taxus baccata) as marcas deixadas pelo atingimento por um raio.

O Teixo (Taxus baccata) é uma árvore de grande longevidade, rara no nosso país, que se pode encontrar próxima a cursos de água nas Serras do Gerês, Estrela ou Montesinho. Embora extremamente venosa a sua utilidade para o Homem é conhecida desde a antiguidade. Enquanto que na Idade Média a sua madeira, simultaneamente resistente e elástica, era utilizada na construção de arcos para a guerra e caça na actualidade é partir do teixo que se extrai o taxol, um dos quimioterápicos de maior eficácia no tratamento dos cancros da mama ou do pulmão.
Caminhando numa floresta do Norte da Península Ibérica pude constatar que um exemplar centenário de teixo tinha recentemente sido atingido por um raio no decurso de uma tempestade. Apesar do incêndio que se seguiu este velho senhor do bosque ainda resistia. Será que no próximo Verão ainda produzirá os seus característicos arilos vermelhos e poderá resistir a novas tempestades?